30.12.03

Mais uma vez: UM FANTÁSTICO 2004 PARA TODOS!
Greetings!

Agora que nos aproximamos do fim do ano, temos todos a esperança que no próximo surja um álbum de estúdio. Enquanto isso não acontece, volto-me para o último álbum de originais para recuperar uma canção que é uma das minhas favoritas e que eu não tive oportunidade de ver ao vivo (nem sei se já foi tocada ao vivo, sequer). "Paradise", na minha interpretação, conta a história de um casal apaixonado em que um dos membros (não é claro se é o homem ou a mulher) é um bombista-suicida que se faz explodir num "mercado cheio de gente" e o outro é um(a) americano(a) da Virginia, fazendo lembrar a história de "Worlds Apart". O(a) americano(a) tenta depois encontrar o seu amor cometendo também ele(a) suicídio, mas, enquanto está debaixo das águas, não "encontra a paz nos olhos" do seu amor e escolhe a vida, rompendo as ondas e deixando o sol tocar de novo a sua face. Uma letra magnífica na sua simplicidade e, simultaneamente, complexidade.

"Paradise" (2002)

Paraíso

Onde o rio corre para se tornar negro
Eu pego nos livros escolares da tua mochila
Plásticos, fio e o teu beijo
O sopro da eternidade nos teus lábios

No mercado cheio de gente
Eu vagueio de face em face
Sustenho a minha respiração e fecho os meus olhos
Sustenho a minha respiração e fecho os meus olhos
E espero pelo paraíso
E espero pelo paraíso

As colinas da Virginia tornaram-se castanhas
Outro dia, outro sol que se põe
Visito-te num outro sonho
Visito-te num outro sonho

Estico a minha mão e sinto os teus cabelos
O teu cheiro paira no ar
Toco ao de leve na tua face com a ponta dos meus dedos
Provo o vazio sobre os teus lábios
E espero pelo paraíso
E espero pelo paraíso

Procuro por ti no outro lado
Onde o rio corre limpo e largo
Até ao meu coração as águas subiram
Até ao meu coração as águas subiram

Afundo-me debaixo da fria e límpida água
Vagueando para baixo, desapareço
Vejo-te no outro lado
Procuro pela paz nos teus olhos
Mas eles estão tão vazios como o paraíso
Eles estão tão vazios como o paraíso

Eu rompo acima das ondas
Sinto o sol na minha cara

22.12.03

Só para acrescentar: FELIZ NATAL e um fantástico 2004!
Greetings!

Se há album que merece ser traduzido na sua totalidade, tem de ser o "Ghost Of Tom Joad". Liricamente, Springsteen atinge o auge nesta magnífica obra de meados dos anos 90, regressando ao aclamar da crítica com um album low-profile após os fracassos que foram "Human Touch" e "Lucky Town". Pela primeira vez, Springsteen escrevia sobre situações que não se passaram com ele ou sequer que tenha presenciado. São histórias que lhe chegavam aos ouvidos ou que ele construía a partir de uma série de apontamentos reais. E se "Ghost..." é a continuação da linha iniciada em "Nebraska", quinze anos antes, há uma canção que poderia perfeitamente ter sido incluída nesse album: "Highway 29! O universo de crime e sangue é o mesmo de "Nebraska" (a canção que dá o nome ao álbum) ou do magnífico e muitas vezes esquecido "Losin' Kind", um "outtake" de 1982.

"Highway 29" (1995)

Auto-Estrada 29

Eu tropecei no seu sapato, ela era um perfeito tamanho sete
Eu disse "Não se pode fumar na loja, senhora"
Ela cruzou as pernas e depois

Conversámos sobre coisas banais, era onde deveria ter parado
Ela passou-me um número, eu pu-lo no meu bolso
A minha mão escorregou pela sua saia acima, tudo escorregou da minha mente
Naquela pequena estalagem
Na auto-estrada 29

Era um banco de uma pequena cidade, era uma confusão
Bem, eu tinha uma arma, tu sabes o resto
Dinheiro no soalho, camisa estava coberta de sangue
E ela estava a chorar. Ela e eu dirigimo-nos para sul
Na auto-estrada 29

Num pequeno motel do deserto, o ar era quente e limpo
Dormi o sono dos mortos, eu não sonhei
Acordei de manhã, lavei a minha cara na pia
Dirigimo-nos para as Sierra Madres do outro lado da fronteira

O Sol de Inverno perfurava através das árvores negras
Eu disse a mim mesmo que era tudo algo nela
Mas enquanto conduzíamos eu soube que era algo em mim
Algo que já veio de há muito muito tempo
E algo que estava agora aqui comigo
Na auto-estrada 29

A estrada estava cheia de vidro partido e gasolina
Ela não estava a dizer nada, era apenas um sonho
O vento veio silenciosamente através do pára-brisas
Tudo o que conseguia ver era neve e céu e pinheiros
Fechei os meus olhos e estava a correr
Estava a correr e depois estava a voar...

11.12.03

Greetings!

Depois de uma ausência mais longa do que o habitual devido a excesso de trabalho (era bom q fosse excesso de férias...) eis q volto ao álbum da canção anterior, o "Darkness...".
Para mim, bem como para muitos fãs, este álbum marca o fim em beleza de uma etapa da carreira do Springsteen. A fase sonhadora-poeta-rebelde-revoltada dos anos 70 terminava com um grande álbum, cheio de hinos Springsteenianos. Este é um dos maiores, porque nos faz acreditar que existe uma terra prometida...


"The Promised Land" (1978)

A Terra Prometida

Numa estrada de cascavéis no deserto do Utah
Recolho o meu dinheiro e dirijo-me de volta à cidade
Guiando através da fronteira do condado de Waynesboro
Tenho o rádio ligado e estou apenas a matar tempo

A trabalhar todo o dia na garagem do meu pai
A conduzir toda a noite, perseguindo alguma miragem
Daqui a pouco, miúda, eu vou entrar à carga

Os cães na Rua Principal uivam, porque eles compreendem
Se eu pudesse agarrar um momento nas minhas mãos
Senhor, eu não sou um rapaz, não, eu sou um homem
E eu acredito na terra prometida

Fiz o meu melhor para viver da maneira correcta
Levanto-me todas as manhãs e vou trabalhar em cada dia
Mas os teus olhos ficam cegos e o teu sangue corre frio
Às vezes sinto-me tão fraco que só quero explodir

Explodir e partir esta cidade em pedaços
Pegar numa faca e cortar esta dor do meu coração
Encontrar alguém ansioso para que algo comece

Os cães na Rua Principal uivam, porque eles compreendem
Se eu pudesse agarrar um momento nas minhas mãos
Senhor, eu não sou um rapaz, não, eu sou um homem
E eu acredito na terra prometida

Há uma nuvem negra a levantar-se do chão do deserto
Fiz as minhas malas e dirijo-me directamente para a tempestade
Vai ser um tornado que deitará abaixo tudo
Que não tenha a fé para manter os seus alicerces

Sopra para longe os sonhos que te fazem em pedaços
Sopra para longe os sonhos que partem o teu coração
Sopra para longe as mentiras que te deixam sem nada
A não ser perdido e despedaçado

Os cães na Rua Principal uivam, porque eles compreendem
Se eu pudesse agarrar um momento nas minhas mãos
Senhor, eu não sou um rapaz, não, eu sou um homem
E eu acredito na terra prometida
E eu acredito na terra prometida
E eu acredito na terra prometida

24.11.03

Greetings!

Para comemorar o lançamento oficial do DVD "Live in Barcelona", aqui está uma das muitas pérolas que podemos lá encontrar. Um dos temas clássicos extraído de um dos melhores albums de sempre do Springsteen, tema este que baptizou esse mesmo album: "Darkness On The Edge Of The Town". Porque há coisas que apenas aí podemos encontrar...

"Darkness On The Edge Of The Town" (1978)

Escuridão Na Margem Da Cidade (1978)

Bem, eles ainda correm nos Trestles
Mas esse sangue nunca queimou nas veias dela
Agora, ouvi dizer que ela tem uma casa em Fairview
E um estilo que ela tenta manter

Bem, se ela me quer ver
Podes dizer-lhe que sou facilmente encontrado
Diz-lhe que há um sítio debaixo da ponte Abram's
E diz-lhe que há uma escuridão na margem da cidade
Há uma escuridão na margem da cidade

Toda a gente tem um segredo, Sonny
Algo que não conseguem enfrentar
Alguns tipos passam todas as suas vidas a tentar mantê-lo
Eles carregam-no em cada passo que dão

Até que um dia eles simplesmente largam-no
Largam-no ou deixam que ele os arraste para o fundo
Onde ninguém faz qualquer pergunta
Ou olha demasiado tempo para a tua cara
Na escuridão na margem da cidade
Há uma escuridão na margem da cidade

Alguns tipos nascem para uma boa vida
Outros tipos conseguem-na de qualquer maneira
Eu perdi a minha fé quando perdi a minha mulher
Essas coisas já não me parecem importantes agora

Porque esta noite estarei naquela colina, porque não posso parar
Estarei naquela colina com tudo o que tenho
Vidas em jogo onde sonhos são achados e perdidos
Estarei lá a tempo e pagarei o preço
De querer coisas que podem apenas ser encontradas
Na escuridão na margem da cidade
Na escuridão na margem da cidade

15.11.03

Greetings!

Dias depois de sair o "Essential", eu tinha de deixar aqui uma referência a uma das pérolas do 3o. CD. "Missing" é, juntamente com "Streets of Philadelphia", um dos representantes do famoso e muito procurado álbum de meados da década de 90 em q Springsteen procurou novos caminhos. A julgar pelo q nos é dado a mostrar, deve ser algo de fantástico! "Missing" foi usado no 2o. filme realizado pelo Sean Penn, "The Crossing Guard", juntando mais um capítulo nas ligações Penn-Springsteen, q haviam começado com o 1o. filme realizado por Sean Penn, "Indian Runner" ("Irmãos de Sangue", título em Português), q era a versão cinematográfica de "Highway Patrolman", do "Nebraska". "Missing" deixa-nos a sensação de um vazio constante e perturbador. O ritmo leva-nos para uma história passada no mundo dos sonhos. E dizem que não podemos morrer nos sonhos. Mas ao ouvir "Missing", parece q encontrámos a excepção...

"Missing" (1995)

Desaparecida

Acordei esta manhã, estava um arrepio no ar
Entrei na cozinha, os teus cigarros estavam lá
O teu casaco estava pendurado na cadeira onde o deixaste ontem à noite
Tudo estava no sítio, tudo estava bem
Mas tu estavas desaparecida
Desaparecida...

Ontem à noite sonhei que o céu se tornara negro
Tu estavas a vaguear e não conseguias voltar
Tu estavas perdida e em problemas tão longe de casa
Eu estendi-te a minha mão, os meus braços tornaram-se pedra
Acordei e tinhas desaparecido
Desaparecido...

Eu procurei por algo para explicar
Na chuva sussurrante, no tremor das folhas
Diz-me, querida, onde foste tu?
Estavas aqui apenas há um momento atrás

Há noites onde ouço os teus passos cairem
A tua chave na porta, a tua voz no corredor
O teu cheiro anda à deriva através do nosso quarto
Acordo, mas não me movo

4.11.03

Greetings!

1984 foi ano da explosão do Bruce Springsteen como expoente máximo da cultura popular norte-americana, tudo isto ao devido ao mega-sucesso de "Born In The USA". Para muitos de nós, fãs do homem, foi o primeiro contacto com aquele q viria a ser uma das nossas referências. Aos 35 anos, Springsteen conquistava o mundo e, com isso, um responsabilidade tremenda. Muitos de nós dirão q teria sido mais justo esta conquista ter acontecido com o fantástico "Born To Run" ou, até, "The River", discos com argumentos mais do q suficientes para "estourar" nos tops, mas estava destinado q fosse "Born In The USA" o gatilho para a Brucemania q se verificaria nos anos seguintes. Felizmente, o tempo encarregou-se de fazer uma filtragem aos fãs, distinguindo os fãs "Dancing In The Dark" e os outros. Nós somos os outros. Sem retirada, sem rendição.


"No Surrender" (1984)

Sem Rendição

Nós saímos da turma, tínhamos de nos afastar daqueles parvos
Nós aprendíamos mais a partir de um disco de 3 minutos do que alguma vez aprendemos na escola
Esta noite ouço o som da bateria na vizinhança, consigo sentir o meu coração começar a bater
Tu dizes que estás cansada e que apenas queres fechar os teus olhos e seguires os teus sonhos

Fizemos uma promessa, jurámos que nos iríamos sempre lembrar
Sem retirada, querida, sem rendição
Como soldados na noite de Inverno com uma causa a defender
Sem retirada, querida, sem rendição

Bem, agora caras jovens crescem tristes e velhas e corações de fogo crescem frios
Nós jurámos irmãos de sangue contra o vento, agora estou pronto para crescer jovem outra vez
E ouvir a voz da tua irmã a chamar-nos para casa através de campos abertos
Bem, talvez consigamos arranjar algum lugar nosso com estas baterias e estas guitarras

Fizemos uma promessa, jurámos que nos iríamos sempre lembrar
Sem retirada, querida, sem rendição
Irmãos de sangue na noite de tempestade com uma causa a defender
Sem retirada, querida, sem rendição

Agora na rua, esta noite, as luzes tornam-se fuscas, as paredes do meu quarto estão a apertar-se
Há uma guerra lá fora ainda a travar-se, tu dizes que já não é nossa para ganhar
Quero dormir debaixo de céus pacíficos na cama da minha amante
Com uma terra bem aberta no meu coração e estes sonhos românticos na minha cabeça

Uma vez fizemos uma promessa, jurámos que nos iríamos sempre lembrar
Sem retirada, querida, sem rendição
Como viajantes na noite de tempestade com uma causa a defender
Sem retirada, querida, sem rendição
Sem retirada, querida, sem rendição

28.10.03

Greetings!

Há uma canção q, por motivos q se revelarão óbvios no final deste parágrafo, nunca poderia deixar de ser apresentada aqui. Mesmo para muitos fãs, esta canção, pelo menos no formato em q foi gravada, é daquelas q não figura nas listas das favoritas. Para mim, é das melhores peças do início da década de 90. Quem ouviu a versão apresentada nos concertos em favor do Christic Institute em 1990, provavelmente ficou desapontado com a versão gravada em "Human Touch". Eu gosto das duas! Uma excelente auto-paródia à sua vida na altura e q serviu para baptizar este blog.

"57 Channels (And Nothin'On)" (1990)

57 Canais ( E nada para ver)

Comprei uma casa burguesa nas colinas de Hollywood
Com um baú carregado de cem mil notas de dólar
Homem veio cá ligar a minha televisão por cabo
Instalámo-nos para a noite, a minha querida e eu
Nós fomos mudando, às voltas e voltas, até depois da madrugada
Havia 57 canais e nada para ver

Bem, agora o lazer em casa era o desejo da minha querida
Então eu dei um salto até à cidade para uma antena de satélite
Amarrei-a na capota do meu carro japonês
Vim para casa e apontei-a lá para as estrelas
Uma mensagem veio de volta do grande além
Há 57 canais e nada para ver

Bem, podemos ter feito alguns amigos com alguns bilionários
Podíamos ter ficado todos simpáticos e amigáveis
Se tivéssemos subido as escadas
Tudo o que recebi foi um bilhete que dizia "Adeuzinho John,
O nosso amor são 57 canais e nada para ver."

Então eu comprei uma Magnum .44, feita em aço sólido
E no abençoado nome de Elvis, bem, eu deixei-a estourar
Até a minha televisão estar em pedaços a meus pés
E eles me prenderem por perturbar a toda-poderosa paz
O juiz disse: "O que tens em tua defesa, filho?"
"57 canais e nada para ver"
Consigo ver pelos teus olhos que estás quase perdido
57 canais e nada para ver
57 canais e nada para ver

21.10.03

Greetings!

Há certas interpretações do Springsteen q nos ficam crivadas nos anais da memória. Quando vi o vídeo do concerto acústico q o homem deu para a fundação de ajuda às crianças promovido pelo Neil Young (neste momento não me recordo do nome do evento), no meio de tão magnífica actuação, houve um momento q guardei. Ficou-me marcado por duas razões: nunca tinha ouvido tal versão e a raiva com q a cantou tornou-a mais poderosa e marcante do q a versão "full-band". Estou a falar, claro, de "Seeds"...


"Seeds" (1985)

Sementes

Bem, um grande rio negro um homem encontrou
Então ele pôs todo o seu dinheiro num buraco no chão
E mandou um grande braço de aço por ali abaixo, abaixo, abaixo
Agora eu vivo nas ruas da cidade de Houston

Preparei a minha mulher e filhos quando chegou o Inverno
Dirigimo-nos para sul com apenas saliva e uma canção
Mas eles disseram "Desculpa, filho, já não há, não há, não há"

Bem, há homens dobrados nos caminhos de ferro
Sim, aquele Elkorn Special a soprar os meus cabelos para trás
Tendas amontoadas na autoestrada ao sujo luar
E eu não sei onde vou dormir hoje à noite

Estacionados no depósito de madeiras, estamos a congelar
Os meus miúdos no banco de trás têm uma tosse de morte
Bem, eu estou a dormir à frente com a minha mulher
O pau do Billy a bater no para-brisas no meio da noite
Diz "Vamos a mexer, filho, vamos a mexer"

Uma grande limusine, longa, brilhante e negra
Tu não olhas para a frente e não olhas para trás
Quantas vezes te consegues levantar depois de seres atingido?
Eu juro que se eu pudesse dispender a saliva
Eu a deixaria cair no teu cromado brilhante
E mandar-te-ia de volta para casa

Portanto se vais deixar a tua cidade onde sopra o vento do norte
Para descer até onde o doce rio de soda flui
Bem, é melhor pensares duas vezes nisso, Jack
Ficarás melhor se comprares uma caçadeira atormentada
Porque não há nada por aqui , amigo
Excepto sementes sopradas para a auto-estrada pelo vento do sul
Nós continuamos, continuamos, nós continuamos...

14.10.03

Greetings!

Depois do semi-desapontamento q "Lucky Town" e "Human Touch" provocaram, pouco se sabia daquilo q o homem andava a fazer depois da tour de 92-93 q o trouxe pela primeira (e não última, espero, mas até agora única) vez a Portugal. Em 1994, soube-se q ele ia escrever uma canção para um filme sobre o drama de um advogado q havia contraído SIDA. Meu Deus, e q grande canção ele escreveu! "Streets of Philadelphia" ganhou 3 Grammies nesse ano mais o Óscar para melhor canção de uma banda sonora original. Se bem q os prémios (sobretudo estes) pouco signifiquem, "Streets.." merecia estes e muitos mais. A letra, essa é mais uma obra de arte...

"Streets Of Philadelphia" (1994)

Ruas de Filadélfia

Eu estava ferido e despedaçado, não conseguia dizer o que sentia
Eu estava irreconhecível para mim mesmo
Vi o meu reflexo numa janela e não conheci a minha própria cara
Ó irmão, vais deixar-me perdido assim nas
Ruas de Filadélfia

Caminhei pela avenida até sentir as minhas pernas como pedra
Ouvi vozes de amigos desaparecidos e que se foram
À noite ouço o sangue nas minhas veias
Tão negro e sussurrante como a chuva nas
Ruas de Filadélfia

Não é nenhum anjo que me vai saudar
Somos apenas tu e eu meu amigo
E as minhas roupas já não me servem, eu caminhei
Mil milhas apenas para fugir a esta pele

A noite está a cair, eu estou deitado acordado
Consigo sentir-me a ir embora
Por isso recebe-me, irmão, com o teu beijo sem destino ou
Vamos deixar-nos um ao outro sozinhos assim nas
Ruas de Filadélfia

8.10.03

Greetings!

De volta à década de 90, mas com um novo golpe de rins. Mais do q um sucessor do "Nebraska" de 1982, "Ghost Of Tom Joad" é um retrato cru dos nossos tempos e de uma realidade q julgávamos ser do tempo das "Vinhas da Ira". Uma das mais notáveis obras literárias deste álbum foi-me sugerida pelo Miguel Gonçalves, pelo q aqui fica "Across The Border", com a tradução do mesmo.


"Across The Border" (1996)

Para além da Fronteira


Esta noite, fiz as malas
Amanhã caminharei nestes caminhos
Que me levarão para além da fronteira

Amanhã, o meu amor e eu
Dormiremos debaixo de céus rosados
Algures, para além da fronteira

Deixaremos para trás querida
A dor e tristeza que encontrámos aqui
E beberemos das águas lamacentas do rio Bravo

Onde os céus são grandes e cinzentos
Encontrar-nos-emos no outro lado
Lá, para além da fronteira

Por ti, construirei uma casa
No cimo de um monte relvado
Algures, para além da fronteira
Onde a dor e a mentira foram acalmadas
Lá, para além da fronteira

E doces flores enchem o ar
Pastos verdes e dourados
Que vão ao encontro de águas límpidas
E nos teus braços debaixo de céus abertos
Beijarei a tristeza dos teus olhos
Lá, para além da fronteira

Esta noite, cantaremos as canções
Sonharei contigo, meu amor
E amanhã o meu coração será forte

E que as benções e as preces dos santos
Me guiem em segurança aos teus braços
Lá, para além da fronteira

Porque o que somos nós
Sem a esperança nos nossos corações de
Que algum dia beberemos das águas abençoadas por Deus
E comeremos a fruta da vinha
Eu sei que o amor e fortuna serão meus
Algures, para além da fronteira.

(Tradução de Miguel Gonçalves)

2.10.03

Greetings!

Em 1987, Springsteen tem um verdadeiro golpe de rins ao lançar o intimista "Tunnel Of Love" depois da loucura de "Born In The USA". Por esta altura, a escrita de Springsteen mudara e reflectia agora o seu estado de alma. E as suas canções eram perfeitos conselheiros sentimentais para aqueles q atravessavam o mesmo tipo de dúvidas e incertezas q ele tinha em relação ao sentimento supremo q é o amor. O seu casamento e o q a seguir se passou mostrou q, tal como todos nós, também ele tem duas caras...

"Two Faces" (1987)

Duas caras

Conheci uma rapariga e fugimos
Jurei que a faria feliz em cada dia
E agora fi-la chorar
Duas caras tenho eu

Por vezes, senhor, sinto-me alegre e livre
Meu Deus, como adoro ver a minha querida sorrir
Depois nuvens negras aproximam-me
Duas caras tenho eu

Uma que ri, uma que chora
Uma diz olá, uma diz adeus
Uma faz coisas que não compreendo
Faz-me sentir como um homem incompleto

À noite, ajoelho-me e rezo
O nosso amor fará aquele outro homem ir embora
Mas ele nunca dirá adeus
Duas caras tenho eu

Ontem à noite, enquanto te beijava debaixo do chorão
Ele jurou que levaria o teu amor para longe de mim
Ele disse que a nossa vida era apenas uma mentira
E duas caras tenho eu
Iremos em frente e vamos deixá-lo tentar

25.9.03

Greetings!

Por altura da tradução do "Independence Day" já aqui falei da importância da relação com o pai na escrita do Springsteen. Vezes sem conta ele referia-se ao pai em pequenas histórias durante concertos ou nas próprias canções. A raiva misturada com a forte ligação pai-filho foi a ignição para algumas das mais brilhantes explosões narrativas do Springsteen q teve em "Adam Raised A Cain" o expoente máximo dessa mistura de sentimentos. Brilhante! Intenso! Marcante...

"Adam Raised A Cain" (1978)

Adão criou um Caim

No Verão em que fui baptizado, o meu pai segurou-me a seu lado
Enquanto eles me punham na água, ele disse-me como eu chorei nesse dia
Nós éramos prisioneiros do amor, um amor acorrentado
Ele estava parado à porta, eu estava parado à chuva
Com o mesmo sangue quente a queimar nas nossas veias

Adão criou um Caim, Adão criou um Caim, Adão criou um Caim, Adão criou um Caim

Todas as velhas caras perguntam-te porque voltaste
Eles encaixam-te com uma posição e com as chaves do Cadillac do teu papá
Na escuridão do teu quarto a tua mãe chama-te pelo teu verdadeiro nome
Tu recordas-te das caras, dos lugares, dos nomes
Tu sabes que nunca acabará, é implacável como a chuva

Adão criou um Caim, Adão criou um Caim, Adão criou um Caim, Adão criou um Caim

Na Bíbia, Caim desviou Abel, e a Leste do Paraíso ele foi lançado
Tu nasces para esta vida a pagar pelos pecados do passado de outra pessoa
O papá trabalhou toda a sua vida para nada que não a dor
Agora ele percorre estes quartos vazios à procura de algo para culpar
Tu herdas os pecados, tu herdas as chamas

Adão criou um Caim, Adão criou um Caim, Adão criou um Caim, Adão criou um Caim

Perdido mas não esquecido a partir do escuro coração de um sonho

Adão criou um Caim, Adão criou um Caim, Adão criou um Caim, Adão criou um Caim

22.9.03

Greetings!

Há canções em que, sabe-se lá porquê, só reparamos passadas algumas audições. Por vezes depdende do momento ou da versão da canção para q, finalmente, uma luz surja para nos mostrar o quão bela ela é. Foi o q aconteceu com "My Beuatiful Reward" depois de a ouvir no "Plugged" de 1993. Até então era apenas uma melodia bonita. Depois disso passou a ser uma das mais belas do tio. Para provar q 1992 também nos deixou excelentes recordações...


"Mt Beautiful Reward" (1992)

Minha bela recompensa

Bem, eu procurei ouro e anéis de diamante
A minha própria droga para aliviar a dor que viver traz
Caminhei desde a montanha até ao chão do vale
À procura da minha bela recompensa
À procura da minha bela recompensa

A partir de uma casa na colina, brilha uma luz sagrada
Caminho através destes quartos, mas nenhuns deles são meus
Por entre corredores vazios, fui de porta em porta
À procura da minha bela recompensa
À procura da minha bela recompensa

Bem, o teu cabelo brilhava ao sol
Eu estava tão lá em cima, sim, eu era aquele com sorte
Então eu vim a cambalear por ali abaixo
Como um bêbado no chão de um bar
À procura da minha bela recompensa
À procura da minha bela recompensa

Hoje à noite consigo sentir um vento frio nas minhas costas
Estou a voar alto sobre campos cinzentos, as minhas penas longas e negras
Ao longo da silenciosa margem do rio eu vôo alto
À procura da minha bela recompensa
À procura da minha bela recompensa...

15.9.03

Greetings!

De volta ao início da década de 80, encontramos um Springsteen no início de uma nova fase da sua vida, depois da raiva de "Darkness...". Foi também nesta altura q ele começou a interessar-se e a escrever sobre situações e causas q não eram tão próximas como os dramas familiares, o ambiente de Asbury, os seus sonhos e realidades ou a sua raiva, temas q sempre foram centrais no seu processo criativo. Umas das primeiras causas q abraçou foi a luta contra a proliferação das armas nucleares, q teve o seu expoente máximo na grande prestação durante o concerto "No Nukes". Este "Roulette" encaixava na perfeição...

Roleta (1980?)

Deixámos os brinquedos no quintal
Levei a minha mulher e filhos e deixei a minha casa sem guarda
Carregámos o que pudemos no carro
Ninguém aqui sabe como começou

De repente tudo estava fora de controlo
Agora eu quero algumas respostas, senhor, eu preciso de saber
Eu ouço as palavras todas, eu não sei o que está a dizer
Mas penso que tenho uma boa ídeia do jogo que está a jogar

Roleta, é esse o nome
Roleta, é esse o jogo
Roleta, eu não sei o que eles estão a dizer
Roleta, e toda a gente joga

Eu cresci aqui nesta rua onde nada se move, apenas uma brisa estranha
Numa cidade cheia de memórias que nada valem
Há uma sombra no meu quintal de trás
Tenho uma casa cheia de coisas que não posso tocar
Bem, todas essas coisas não me servem de muito agora

Eu era um bombeiro lá no Riker, eu fazia o meu trabalho
Senhor, fui enganado, sinto-me como se tivesse sido roubado
Sou o grande dispensável, a minha vida foi cancelada, anulada e esvaziada
Mas o que é que vai fazer acerca do seu novo rapaz?

Roleta, está a jogar com a minha vida
Roleta, com os meus filhos e a minha mulher
Roleta, a cada dia as apostas são maiores
Roleta, um dedo diferente no gatilho

Lá para os lados do rio que conversa, a noite fala através de holofotes
E rádios de onda-curta gritam
A polícia patrulha as ruas
Mas eu deixei para trás o homem que costumava ser
Tudo em que ele acreditava e tudo que me pertencia a mim

Tentei encontrar o caminho para algum lugar onde pensei que fosse seguro
Eles pararam-me no bloqueio que montaram na auto-estrada
Eles puseram-me sobre detenção mas eu soltei-me e depois fugi
Eles disseram que queriam fazer-me umas perguntas, mas penso que eles tinham outros planos
Agora eu não sei em quem confiar e não sei em que posso acreditar
Eles disseram que queriam ajudar-me mas com as coisas que eles continuavam a dizer
Eu penso que aqueles tipos apenas queriam continuar a jogar

Roleta, com a minha vida
Roleta, com os meus filhos e a minha mulher
Roleta, a bala está na câmara
Roleta, quem é o infeliz estranho?
Roleta, surpresa, estás morto
Roleta, a arma à tua cabeça
Roleta, a bala roda na câmara
Roleta, puxa o gatilho, sente o clique
Não há mais perigo

11.9.03

Greetings!

2 anos depois da tragédia, apenas uma canção podia ser apresentada aqui hoje: "The Rising". Mais palavras para quê?

"The Rising" (2002)

A Elevação

Não consigo ver nada à minha frente
Não consigo ver nada a surgir por trás
Eu sigo o meu caminho através desta escuridão
Não consigo sentir nada a não ser esta corrente que me liga
Perdi a noção do quão longe fui
Do quão longe fui, do quão alto subi
Nas minhas costas, o meu amuleto da sorte
No meu ombro meia milha de cabo

Vem para a elevação
Vem, põe as tuas mãos nas minhas
Vem para a elevação
Vem para a elevação esta noite

Saí de casa esta manhã
Sinos a tocar enchiam o ar
Vestia a cruz do meu chamamento
Em rodas de fogo eu vim até aqui

Vem para a elevação
Vem, põe as tuas mãos nas minhas
Vem para a elevação
Vem para a elevação esta noite

Há espíritos por cima e atrás de mim
Caras tornaram-se negras, olhos ardem de brilho
Que o seu precioso sangue me ligue
Senhor, enquanto eu estou perante a Tua luz de fogo

Vejo-te Maria no jardim
No jardim dos mil suspiros
Há retratos sagrados dos nossos filhos
A dançar num Céu repleto de luz
Que eu sinta os teus braços à minha volta
Que eu sinta o teu sangue misturar-se com o meu
Um sonho de vida vem até mim
Como um peixe-gato a dançar no fim da minha linha

Céu de negrume e mágoa (um sonho de vida)
Céu de amor, céu de lágrimas (um sonho de vida)
Céu de glória e tristeza (um sonho de vida)
Céu de mesericórdia, céu de medo (um sonho de vida)
Céu de memória e sombra (um sonho de vida)
O teu vento ardente enche os meus braços esta noite
Céu de anseios e de vazio (um sonho de vida)
Céu de plenitude, céu de vida abençoada

Vem para a elevação
Vem, põe as tuas mãos nas minhas
Vem para a elevação
Vem para a elevação esta noite

5.9.03

Greetings!

Parece que não sou o único com falta de tempo nesta altura do campeonato, a julgar pelo "feedback" das últimas traduções, mas é claro q a maior parte do pessoal só agora está a regressar das férias. Mas este blog está aqui para apresentar traduções de canções de um senhor chamado Bruce Springsteen e dissertar sobre elas, por isso vou direito a uma das pérolas da caixa "Tracks" e uma das poucas canções q praticamente ninguém, nem o fã q sabe a cor das cuecas do homem a cada dia, conhecia. Houve quem logo colasse esta canção ao problema da violência doméstica, minimizando o sentido bem mais vasto desta curta grande canção q, afinal, fala do nosso lado mais sombrio, a quem nós muitas vezes insistimos em "dar-lhe um nome".


"Gave It A Name" (1991?)

Deu-lhe um nome

Nos campos do Senhor
Estavam Abel e Caim
Caim matou Abel debaixo da chuva negra
À noite ele não conseguia suportar a culpa ou a censura
Então ele deu-lhe um nome
Então ele deu-lhe um nome
Então ele deu-lhe um nome

Billy embebedou-se, furioso com a sua mulher
Ele bateu-lhe uma vex, ele bateu-lhe duas vezes
À noite ele deitava-se na cama, ele não suportava a vergonha
Então ele deu-lhe um nome
Então ele deu-lhe um nome
Então ele deu-lhe um nome

Papá disse-me "Filho, uma coisa eu sei que é verdade:
Veneno de cobra morde-te, tu és veneno também"
À noite eu consigo sentir esse veneno a correr pelas minhas veias...

28.8.03

Greetings!

As minhas traduções têm-se ressentido da minha falta de tempo devido a obrigações profissionais. Mas como são essas obrigações q pagam as contas ao fim do mês... Mas voltando ao q importa para falar de uma grande canção de um dos melhores albums, na minha opinião, do Springsteen. Esta canção leva-nos a um ambiente sombrio, húmido e desconfortável q está presente em todo o "Nebraska" e, no fim, deixa-nos um arrepio na espinha com aquele uivar assustador. É uma grande, grande canção que teve direito, entre outras, a uma excelente versão por parte dos Cowboy Junkies no seu primeiro álbum "White Off Earth Now". As grandes canções são intemporais e esta poderia ter sido gravada à 50 anos ou ontem. "State Trooper", uma das muitas pérolas do grande álbum que é "Nebraska"

"State Trooper" (1982)

Guarda Estatal

Turnpike de New Jersey, a conduzir numa noite molhada
Debaixo do brilho da refinaria, lá onde os grandes rios negros fluem
Carta, documentos? Eu não tenho nenhuns
Mas tenho a consciência limpa sobre as coisas que eu fiz

Senhor Guarda Estatal, por favor não me pare
Por favor não me pare, por favor não me pare

Talvez você tenha um miúdo, talvez tenha uma linda mulher
A única coisa que eu tenho, tem-me atormentado toda a minha vida

Senhor Guarda Estatal, por favor não me pare
Por favor não me pare, por favor não me pare

Nas horas da madrugada, a tua cabeça fica confusa
As torres de retransmissão de rádio levam-me até à minha querida
O rádio está entupido com estações de talk-shows
É só falar, falar, falar, falar, até perderes a paciência

Senhor Guarda Estatal, por favor não me pare

Oooooh Oooooh

Ei, alguém aí, ouça a minha última oração
"Hi-ho silver-o", entreguem-me de nenhures

Oooooh

20.8.03

Greetings!

Vim de umas curtas férias e nos próximos dias não vou ter muito tempo para "bloggar", já q a coisa anda apertada no emprego. A canção aqui traduzida tem um significado especial para mim (como muitas outras) porque foi a primeira q ouvi ao vivo com a E Street Band, pois abriu o grande concerto do dia 9 de Abril de 1999 em Barcelona: "My Love Will Not Let You Down". Quem fez a tradução e deu a sugestão foi o Miguel Gonçalves a quem aqui agradeço.


"My Love Will Not Let You Down" (1983?)

O Meu Amor Não Te Vai Desiludir

Á noite vou para a cama, mas não consigo dormir
Tenho algo à volta na minha cabeça
Que teima em não parar
No silêncio, ouço o bater do meu coração e o tempo a passar
Tenho uma bomba relógio bem dentro de mim
Vou-te dizer aquilo que quero dizer
Procuro por ti, querida
Procuro em todo os lados a que vou
E quando te encontrar, há apenas uma coisa que te vou dizer
O meu amor não te vai desiludir
O meu amor não te vai desiludir

À noite, ando nas ruas à procura de romance
Mas acabo sempre por cair num meio transe
Procuro uma ligação em alguns olhares novos
Mas eles estão ansiosos por protecção por muitos sonhos que se passaram
Vejo-te no quarto a olhar-me sem um som
Bem, vou caminhar pelo meio da multidão,
Vou deitar todos os teus muros abaixo
Deitar todos os teus muros abaixo
O meu amor não te vai desiludir
O meu amor não te vai desiludir

Bem, fica quieta agora, fica quieta pelo amor de Deus
Porque tenho uma promessa que não receio fazer
O meu amor não te vai desiludir
O meu amor não te vai desiludir

(tradução de Miguel Gonçalves)

12.8.03

Greetings!

Antes de ir uns curtos dias de férias, deixo aqui a canção que mais fãs do Springsteen dizem ser a sua favorita: "Thunder Road". Para mim é muito especial, porque, a partir do momento em q coloquei o CD 1 do "Live 1975-85" q me tinham emprestado a tocar, a minha vida deixou de ser a mesma após a 1a. faixa. A versão neste álbum é a minha favorita. Só de o imaginar sentado ao piano a tocar isto na década de 70... Realidade, romance, fuga, poesia, fantasmas e a estrada. Sempre a estrada. Mais palavras para quê?

"Thunder Road" (1974)

Estrada do trovão

A porta bate, o vestido de Mary ondula
Como uma visão, ela dança através do alpendre enquanto o rádio toca
Roy Orbison canta para aqueles que estão sozinhos
Ei, sou eu, e quero-te apenas a ti
Não me mandes de volta para casa outra vez, eu não me consigo imaginar sozinho outra vez
Não fujas lá para dentro, querida, tu sabes muito bem porque estou aqui
Então estás assustada e pensas que talvez já não sejamos tão novos assim
Mostra um pouco de fé, há magia na noite
Tu não és uma beleza, mas, ei, tudo bem
E está tudo bem para mim

Tu podes esconder-te por baixo das tuas máscaras e estudar a tua dor
Fazer cruzes dos teus amantes, atirar rosas à chuva
Desperdiçar o teu Verão a rezar em vão
Por um salvador que emerge destas ruas

Bem, eu não sou herói, isso está entendido
Toda a redenção que posso oferecer, rapariga, é debaixo desta capota suja
Com uma hipótese de a fazer bem de alguma maneira
Ei, o que mais podemos fazer agora?
Excepto descer o vidro e deixar o vento soprar o teu cabelo para trás
Bem, a noite está completamente aberta
E estas duas faixas levam-nos a qualquer sítio
Temos uma última hipótese de o tornar realidade
De trocar estas asas por umas rodas
Entra aí para trás: o Céu espera-nos na estrada

Vem, toma a minha mão
Nós viajamos hoje à noite para alcançar a terra prometida
Ó Estrada do Trovão, Estrada do Trovão, Estrada do Trovão
Deitada ali como um assassino ao sol
Ei, eu sei que é tarde, mas nós conseguimos se corrermos
Ó Estrada do Trovão, fica quieta, prepara-te, Estrada do Trovão

Bem, eu tenho esta guitarra e aprendi a fazê-la falar
E o meu carro está lá atrás, se estás preparada para fazer aquela longa caminhada
Do teu alpendre da frente para o meu banco da frente
A porta está aberta, mas a viagem não é de graça
E eu sei que estás sozinha e há palavras que eu não disse
Mas esta noite estaremos livres, todas as promessas serão quebradas

Havia fantasmas nos olhos de todos os rapazes que mandaste embora
Eles assombram esta poeirenta estrada da praia
Nos chassis de Chevrolets avariados
Eles gritam o teu nome à noite na rua
O teu vestido de formatura está estendido em farrapos a seus pés
E no solitário frio antes do amanhecer
Tu ouves os seus motores a rugir
Mas quando chegas ao alpendre eles já se perderam no vento
Por isso Mary, entra
Esta é uma cidade cheia de perdedores e eu vou sair daqui para ganhar!

7.8.03

Greetings!

Um dos meus albums favoritos de sempre eh o "Nebraska". Foi o travao ao fenomeno Springsteen potenciado pelo Top 10 "Hungry Heart" 2 anos antes. E que grande travao! "Nebraska" eh um disco genial! Quer pelo ambiente escuro e simplicidade das cancoes quer pelo fantastico trabalho de escrita, redimindo-se de alguns atentados literarios q cometeu em "The River", sem duvidas, para mim, o seu mais fraco trabalho em termos de letras ate entao. Praticamente todas as cancoes do "Nebraska" sao brilhantes em termos de letra, mas escolhi uma das mais emblematicas de todo o album: "Reason to Believe"

"Reason To Believe" (1982)

Razao para acreditar

Vi um homem parado ao pe de um cao morto que estava na autoestrada numa valeta
Ele olhava para baixo, meio intrigado, mexendo no cao com um pau
Abriu a porta do carro de repente, ele esta parado na Auto-Estrada 31
Como se ele ficasse ali tempo suficiente, aquele cao se levantasse e corresse
Achei aquilo engracado, pareceu-me engracado, senhor, a mim
Ao fim de cada dia arduamente ganho, as pessoas encontram alguma razao para acreditar

A Mary Lou amava o Johnny, com um amor sentido e verdadeiro
Ela disse "Querido, eu trabalharei para ti todos os dias e trarei o meu dinheiro para casa para ti"
Um dia ele foi embora e deixou-a, e desde entao
Ela espera ao fim daquela estrada de terra pelo regresso do jovem Johnny
Achei aquilo engracado, pareceu-me engracado, senhor, a mim
Como ao fim de cada dia arduamente ganho, as pessoas encontram alguma razao para acreditar

Levam um bebe para o rio, Kyle William chamaram-lhe eles
Lavam o bebe na agua, leva embora os pecados do pequeno Kyle
Numa barraca de branqueamento de cacadeiras um velho eh morto
Levam o seu corpo para o cemiterio e sobre ele rezam
Senhor, nao nos dizes, dizes o que significa
Mesmo no fim de cada dia arduamente ganho, as pessoas encontram alguma razao para acreditar

A congregacao reune-se nas margens do rio
O padre esta com a sua Bi­blia, o noivo esta a espera da sua noiva
A congregacao foi-se embora e o sol poe-se atras do salgueiro-chorao
O noivo esta sozinho e observa o rio a correr sem nada poder fazer
A perguntar-se onde pode a sua querida estar
Mesmo no fim de cada dia arduamente ganho, as pessoas encontram alguma razao para acreditar

3.8.03

Greetings!

Há canções mais especiais do q outras. São vários os motivos para q tal aconteça. E há também coisas inexplicáveis na carreira do Springsteen no q concerne a canções deixadas de fora de albums em favor de outras. Para nós, fãs de Springsteen, o disco 4 da caixa "Tracks" veio confirmar isto mesmo ao mostrar uma série de pérolas q foram deixadas de fora dos mal-amados "Human Touch" e "Lucky Town". Uma das mais incompreensíveis é também uma das mais bonitas canções do Springsteensempre. É a canção q eu associo ao meu casamento. Como foi possível deixar "Happy" de fora do "Human Touch"???!!!

"Happy" (1991)

Feliz

Alguns precisam de ouro e alguns precisam de anéis de diamante
Ou uma droga para levar embora a dor que a vida traz
Uma promessa de um melhor mundo que há-de vir
Quando o que quer que seja que aqui esteja feito
Eu não preciso desse céu de azul
Tudo o que sei é que desde que te encontrei

Sou feliz quando estou nos teus braços
Feliz, querida, vem a escuridão
Feliz quando provo o teu beijo
Sou feliz num amor assim

Há uma casa no cimo de uma colina distante
Onde podes ouvir soar o riso de crianças
Anjos da guarda, eles observam lá de cima
Cuidando do amor que elas trazem
Mas à noite eu sinto a escuridão perto
Eu acordo e encontro-te perto

Sou feliz contigo nos meus braços
Sou feliz contigo no meu coração
Feliz quando provo o teu beijo
Sou feliz num amor assim

Num mundo de dúvida e medo
Acordo à noite e estendo a minha mão para te encontrar perto
Perdido num sonho, tu apanhaste-me enquanto eu caía
Eu quero mais do que um sonho para contar

Nós somos nascidos neste mundo, querida, com poucos dias
E problemas nunca muito longe
Homem e mulher rodeiam-se um ao outro numa jaula
Uma jaula que foi criada ao longo do tempo
Perdidos e a fugir debaixo de um milhão de estrelas mortas
Hoje à noite vamos mudar as nossas peles e fugir por estas grades

Felizes nos braços um do outro
Feliz, querida, vem a escuridão
Felizes no beijo um do outro
Sou feliz num amor assim

1.8.03

Greetings!

Analisando as letras q já aqui traduzi, notei q falta um representante de um dos, para mim, melhores albums do Springsteen: "Darkness On The Edge Of Town". Foi o regresso depois de uma batalha judicial longa e penosa para um Bruce Springsteen q surgiu mais amargo, mais revoltado e menos "sonhador", depois do autêntico ensaio de poesia urbana q foi "Born To Run". "Darkness" é um album com um som cru, com letras q não deixam grandes espaços para segundas interpretações e onde a palavra "revolta" se ouve em cada nota. A importância da relação com o pai começa a ser notada neste álbum com temas como o "Adam raised a Cain" ou o "Factory". E por tudo aquilo q foi escrito em 1978 sobre o trabalho numa fábrica se poder voltar a escrever da mesma maneira passados 25 anos, aqui está "Factory"...

"Factory" (1978)

Fábrica

Cedo na manhã, o apito da fábrica toca
Homem levanta-se da cama e veste as suas roupas
Homem leva o seu almoço, caminha para a luz da manhã
É a vida de trabalho, trabalho, trabalho

Através das mansões do medo, através das mansões da dor
Eu vejo o meu pai a caminhar pelos portões da fábrica à chuva
A fábrica leva-lhe a audição, a fábrica dá-lhe vida
É a vida de trabalho, trabalho, trabalho

Fim do dia, o apito da fábrica chora
Homens caminham através destes portões com morte nos seus olhos
E é melhor que acredites, miúdo, alguém se vai magoar esta noite
É a vida de trabalho, trabalho, trabalho
Porque é apenas a vida de trabalho, trabalho, trabalho

28.7.03

Greetings!

O 11 de Setembro de 2001 é uma data que jamais será apagada dos anais da história da América e do Mundo. Nunca o terror foi tão próximo, dada a cobertura mediática e o visionamento exaustivo das imagens dos aviões. Springsteen, sobre o álbum "The Rising", disse que tentou captar o sentimento que pairava no ar, não tanto a objectividade dos factos. Mas também mostrou neste álbum que há pontes que podem ser construídas entre mundos separados. "Worlds Apart" é uma história de amor com o romance possível num século XXI pleno de mundos separados...


"Worlds Apart" (2003)

Separados por mundos

Eu segurei-te nos meus braços, sim foi como começou
Eu procuro fé no teu beijo e conforto no teu coração
Eu provo a semente sobre os teus lábios, deito a minha língua sobre as tuas cicatrizes
Mas quando olho nos teus olhos, nós estamos separados por mundos

Onde os distantes oceanos cantam, e se elevam para a planície
Nesta seca e conturbada terra a tua beleza mantém-se
Desde as estradas da montanha onde a auto-estrada se dirige para a escuridão
Debaixo da abençoada chuva de Alá, nós continuamos separados por mundos

Por vezes a verdade só não é suficiente
Ou é demasiado em tempos como estes
Vamos deitar a verdade fora, nós vamos encontrá-la neste beijo
Na tua pele sobre a minha pele, no bater dos nossos corações
Que os vivos nos deixem entrar antes que os mortos nos separem

Deixaremos que o sangue construa uma ponte sobre montanhas adornadas com estrelas
Encontrar-me-ei contigo no cume, entre estes mundos separados
Nós temos este momento agora em vida, depois tudo será apenas pó e escuridão
Deixa o amor dar aquilo que dá
Vamos deixar o amor dar aquilo que dá

25.7.03

Greetings!

De volta àquele q, para muitos fãs, é o melhor album de sempre do Springsteen, "Born To Run". Histórias de fuga, de gangs, de traficantes, de liberdade, de ruas, de amores eternos. Um álbum avassalador q Springsteen queria (e porventura conseguiu!) q fosse o melhor da história do Rock! Em "Born To Run" existem vários hinos, várias canções emblemáticas da carreira do Springsteen, mas há uma, porventura a mais discreta, q sempre me fascinou: "Meeting Across The River". Uma história de um pequeno traficante (de droga, presume-se) q tem ali a sua última oportunidade no submundo do crime. E também uma última oportunidade de manter a Cherry, q ameaça ir-se embora. Apenas têm de manter-se calmos naquela noite, ele e o Eddie. E desta vez não é só garganta. Ou será? Não sabemos se o Eddie chegou algum dia a arranjar uma boleia para atravessarem o rio. Mais uma canção q só o Springsteen podia ter escrito.

"Meeting Across The River" (1974)

Encontro do outro lado do rio

Ei Eddie, podes emprestar-me uns trocos?
E hoje à noite podes arranjar-nos uma boleia?
Tenho de atravessar o túnel
Tenho um encontro com um homem do outro lado
Ei Eddie, este tipo, ele é coisa séria
Portanto se também queres vir
Tens de prometer que não dirás nada
Porque este tipo não brinca
E tem-se dito por aí que esta é a nossa última oportunidade

Temos de nos manter calmos esta noite, Eddie
Porque, pá, nós pusemo-nos naquela linha
E se estragarmos esta
Eles não vão andar apenas à minha procura desta vez

E tudo o que temos de fazer é cumprir a nossa parte
Toma, enfia isto no teu bolso
Vai parecer que transportas um amigo
E lembra-te, apenas não sorrias
Muda de camisa, porque hoje à noite temos estilo

Bem, a Cherry diz que se vai embora
Porque ela descobriu que eu levei o seu rádio e o penhorei
Mas Eddie, pá, ela não percebe
Que dois mil(dólares) estão praticamente sentados no meu bolso

E hoje à noite vai ser tudo o que eu disse
E quando eu entrar por aquela porta
Eu vou apenas atirar aquele dinheiro para cima da cama
Ela vai ver que desta vez eu não estava apenas a falar
E depois saio para dar um passeio

Ei, Eddie, podes arranjar-nos uma boleia?

23.7.03

Greetings!

Surpreender é algo a q Springsteen sempre nos habituou. Desde os golpes de rins q se mostraram "Nebraska" e "Tunnel Of Love" lançados a seguir a álbums como o "The River" e "Born In The USA", o homem já demonstrou q gosta de mudar. E ainda bem. Dizem q foi gravado um álbum completo com canções da mesma estirpe do "Streets Of Philadelphia" e "Missing", mas ainda ninguém conhece nada a não ser estas duas canções. E q grandes canções q são! Ambas escritas para bandas sonoras de filmes, ambas nunca lançadas em em album (ok, o "Streets..." está no "Greatest Hits", mas não foi lançada originalmente num album em nome próprio). Mas se o "Streets..." faz parte do "Greatest Hits", há uma terceira canção escrita propositadamente para uma banda sonora q, a existir um "Most Beautiful Ones", estaria lá de certeza: "Lift Me Up". Escrita para o filme "Limbo" (q, caramba, ainda não vi...), esta belíssima canção tem a particularidade de ser cantada praticamente sempre em falseto, o q a torna ainda mais singular. Mais uma vez, Springsteen escreve sobre o amor como apenas um poeta o pode fazer.


"Lift Me Up" (1999)

Eleva-me

Eu não preciso das tuas orações atendidas
Ou das correntes que o teu amante usa
Eu não preciso dos teus anéis de ouro
Ou dos segredos que tu guardas

Eleva-me, querida
Eleva-me e eu cairei contigo, eleva-me
Deixa o teu amor elevar-me

Eu não preciso do teu sagrado juramento
Ou da promessa que o amanhã traz
Ali, atrás das nuvens da manhã
Eu ficarei com a fé que a luz do dia trás

Eleva-me, querida
Eleva-me e eu cairei contigo, eleva-me
Deixa o teu amor elevar-me

Quando o brilho da manhã
Levar embora esta noite
E a luz acima
Nós encontraremos o nosso amor
Nós encontraremos o nosso amor

A tua pele, a tua mão no meu pescoço
Esta pele, os teus dedos na minha pele
Este beijo, este bater do coração, este respirar
Este coração, este coração, esta loucura

Eleva-me, querida
Eleva-me e eu cairei contigo, eleva-me
Deixa o teu amor elevar-me

20.7.03

Greetings!

Um dos meus álbums favoritos de sempre é o muito subestimado (mesmo entre fãs do Springsteen) "The Ghost Of Tom Joad". Para mim, é a mais brilhante compilação de histórias de toda a carreira dele, denotando uma maturidade até então nunca vista, exceptuando, talvez, o "Tunnel of Love", mas com uma maturidade sentimental. O GOTJ é um album mas podia ser um trabalho de investigação sobre o lado escuro da América no final do séc. XX, contando histórias de emigrantes, de migrantes, ex-combatentes, excluídos sociais ou de um outro sem número de lados q normalmente não nos são dados a conhecer. Pela primeira vez, Springsteen escreve sobre pessoas e assuntos q ele próprio não conheceu ou viveu. São canções baseadas em histórias que lhe contaram ou q ele construiu a partir de conhecimentos gerais sobre os assuntos. E conseguiu realizar um filme para cada uma das canções, já que ao ler a letra podemos facilmente visualizar tudo aquilo que está a ser cantado. Mas este álbum não é para ouvir a altos berros. É para ouvir com os auscultadores, num sítio calmo, de preferência com o as letras à frente. "The Ghost Of Tom Joad" é uma das melhores canções do "The Ghost Of Tom Joad", um dos seus melhores álbums.

"The Ghost Of Tom Joad" (1996)

O fantasma de Tom Joad

Homens caminham ao longo do caminho de ferro
Vão para algum lugar, não há retorno
Helicópteros da polícia surgem acima da encosta
Sopa quente num acampamento debaixo da ponte

A fila para o abrigo já se estende para lá da esquina
Bem-vindo à nova ordem mundial
Famílias dormem nos seus carros no sudoeste
Sem casa, sem trabalho, sem paz, sem descanso

A auto-estrada está viva esta noite
Mas ninguém engana ninguém sobre para onde ela vai
Estou aqui sentado à luz da fogueira do acampamento
À procura do fantasma de Tom Joad

Ele tira um livro de orações do seu saco-cama
O pregador acende uma beata e toma um gole
À espera de quando os últimos serão primeiros e os primeiros serão os últimos
Numa caixa de cartão debaixo da passagem subterrânea
Tem um bilhete de ida para a terra prometida
Tu tens um buraco na tua barriga e uma arma na tua mão
Dormindo numa almofada de pedra dura
Tomando banho no aqueduto da cidade

A auto-estrada está viva esta noite
Mas para onde vai, toda a gente sabe
Estou aqui sentado à luz da fogueira do acampamento
À espera do fantasma de Tom Joad

Tom disse: "Mãe, onde quer que haja um poícia a espancar um tipo
Onde quer que um recém-nascido faminto chore
Onde houver uma luta contra o sangue e ódio que pairam no ar
Procura por mim, mãe, eu estarei lá
Onde quer que haja alguém a lutar por um lugar para viver
Ou um emprego decente ou uma mão amiga
Onde quer que haja alguém a lutar para ser livre
Olha nos seus olhos, mãe, ver-me-às a mim

A auto-estrada está viva esta noite
Mas ninguém engana ninguém sobre para onde ela vai
Estou aqui sentado à luz da fogueira do acampamento
À procura do fantasma de Tom Joad

18.7.03

Greetings!

Do mesmo álbum do "Independence Day", mas escrita depois desta. O álbum "The River" é, para mim, um dos menos interessantes da carreira do Springsteen. Depois de ter pasmado uns quantos fãs com esta afirmação, sobretudo os muitos q o consideram como um dos melhores, passo a explicar: tem excelentes canções, mas num álbum duplo, tem muitas outras q são medianas ou mesmo prescindíveis (vem-me assim à cabeça um "I'm a rocker"...). Por isso, tal como no caso do "Human Touch"/"Lucky Town", acho q teria sido preferível um álbum simples. Ou então, substituir algumas das canções por outras inexplicavelmente deixadas de fora com o "Loose Ends", "Take'em as they come" ou o "Be True". Anyway, este "Point Blank" foi sempre, para mim, um dos pontos altos do "The River". Mais uma vez a história da sobrevivência neste mundo difícil e do desmoronar das ilusões e dos sonhos da juventude à medida que o tempo vai passando e a rapariga deixa de "esperar por Romeus" e espera agora pelo cheque da assistência social. A fase do "The River" marca a passagem da raiva da juventude para as dúvidas da fase adulta. A escrita é diferente de 78. Ele está agora mais calmo. Era impensável ele escrever "Point Blank" três anos antes.


"Point Blank" (1980)

À queima-roupa

Ainda dizes as tuas orações, querida?
Ainda vais para a cama à noite rezando para que amanhã tudo esteja bem?
Mas o amanhã desmorona-se em números, em números um por um
Tu acordas e tu estás a morrer, e nem sequer sabes de quê

Eles balearam-te à queima-roupa, foste baleada nas costas
Querida, à queima-roupa, foste enganada desta vez, rapariga isso é um facto
Mesmo entre os olhos, à queima-roupa
Mesmo entre as lindas mentiras que eles contam
Rapariga, tu caíste

Tu cresceste onde as raparigas crescem depressa
Tu aceitaste aquilo que te era dado e deixaste para trás o que foi pedido
Mas o que eles pediam, querida, não era correcto
Tu não precisavas de viver aquela vida

Eu ia ser o teu Romeu, tu ias ser a minha Julieta
Hoje em dia tu não esperas por Romeus, tu esperas pelo cheque da assistência social
E em todas as bonitas coisas que nunca poderás ter e em todas as promessas
Que acabam sempre à queima-roupa, baleadas entre os olhos
À queima-roupa como pequenas mentiras inofensivas que contas para aliviar a dor
Tu caminhas ao alcance, rapariga, da queima-roupa
E um único movimento em falso e, querida, as luzes apagam-se

Uma vez sonhei que estávamos juntos outra vez
Querida, tu e eu
Lá na terra, naqueles velhos bares, como costumávamos estar
Nós estávamos ao balcão, era difícil ouvir
A banda estava a tocar alto e tu gritavas algo no meu ouvido
Tu tiraste-me o casaco e enquanto o baterista contava até quatro
Tu agarraste a minha mão e puxaste-me para a pista

Tu ficaste ali e abraçaste-me, e começaste a dançar devagar
E enquanto eu te abraçava mais, jurei que nunca mais te deixaria ir
Bem, eu vi-te na noite passada, lá na avenida
A tua cara estava nas sombras mas eu sei que eras tu
Tu estavas à porta para evitar a chuva
Tu não respondeste quando chamei o teu nome
Tu apenas te viraste e depois desviaste o olhar
Como apenas outro estranho à espera de ser destruído

À queima-roupa, mesmo entre os olhos
À queima-roupa, mesmo entre as bonitas mentiras em que tu caíste
À queima-roupa, baleado através do coração
Sim, à queima-roupa, tu foste mudada até te tornares parte disso
À queima-roupa, tu caminhas ao alcance
À queima-roupa, a viver a um movimento em falso, a apenas um movimento em falso de distância
À queima-roupa, eles apanharam-te ao alcance
À queima-roupa, tu esqueceste-te de como amar, rapariga, tu esqueceste-te de como lutar?
À queima-roupa, eles devem ter-te baleado na cabeça
Porque à queima-roupa, pum pum, querida estás morta.

15.7.03

Greetings!

Década de 70, a minha favorita! Não apenas por ter nascido nela :), mas sobretudo pelas obras primas que foram e são qualquer um dos 4 albuns lançados então. Embora este "Independence Day" só tenha sido lançado no "The River", em 1980, já estava escrita há um par de anos, pelo menos. O pai de Springsteen foi uma das suas grandes inspirações, sobretudo por representar tudo aquilo que ele receava poder vir a ser, tudo aquilo de que ele queria fugir. As relações com o pai nunca foram fáceis, talvez porque, como ele diz, eram demasiado parecidos. E se calhar eram! Porventura, se o Bruce não tivesse pegado naquela guitarra e saído "dali para ganhar", teria sido tal como o seu pai. Mas ele conseguiu, e assim disse tudo aquilo que pai quis dizer mas nunca o pôde fazer. E o dia em que o fez, foi o "Dia da Independência".


"Independence Day" (1978)

Dia da Independência

Pai, vai para a cama agora, está a ficar tarde
Nada que possamos dizer vai alterar o que quer que seja agora
Partirei de manhã da estação de Sta. Maria
Não mudaríamos estas coisas mesmo que o pudéssemos fazer de alguma forma

Porque a escuridão desta casa apanhou o melhor de nós
Há uma escuridão nesta cidade que também nos apanhou
Mas agora não me podem tocar e tu agora não me podes tocar
Não me vão fazer aquilo que vi fazerem-te a ti

Por isso diz adeus, é o dia da Independência
É o dia da Independência até ao fim
Apenas diz adeus, é o dia da Independência
Desta vez é o dia da Independência

Eu não sei o que foi que sempre houve connosco
Escolhíamos as palavras e sim, desenhávamos as linhas
Não havia maneira desta casa nos conter aos dois
Se calhar nós éramos demasiado parecidos

Bem, diz adeus, é o dia da Independência
É o dia da Independência, todos os rapazes têm de fugir
Por isso diz adeus, é o dia da Independência
Todos os homens tomam o seu caminho no dia da Independência

Os quartos estão todos vazios na pensão do Frankie
E a auto-estrada, ela está deserta até Breaker's Point
Há muita gente a deixar a cidade agora, deixam os seus amigos, os seus lares
À noite percorrem essa escura e poeirenta auto-estrada completamente sozinhos

Bem, pai, vai para a cama agora, está a ficar tarde
Nada que possamos dizer pode alterar o que quer que seja agora
Porque há pessoas diferentes a vir para cá agora
E elas vêem as coisas de maneiras diferentes
E em breve tudo aquilo que conhecemos será simplesmente varrido

Por isso diz adeus, é o dia da Independência
Pai, agora sei as coisas que querias e que não podias dizer
Mas não digas apenas adeus, é o dia da Independência
Eu juro que nunca quis tirar-te essas coisas

13.7.03

Greetings!

Depois de "Jungleland", canção escrita quando ele tinha 25 anos e, por isso, plena do romantismo poético com que se podem contar histórias dos gangs de ruas e dos poetas que acabam feridos, avanço no tempo até 1992, para uma das fases menos interessantes para nós, os fãs. Apesar de tudo, "Lucky Town" (mais) e "Human Touch" (não tanto), tinham algumas grandes canções e algumas delas nunca foram devidamente reconhecidas. "Book of dreams" é, na minha opinião, uma delas. A diferença na escrita é notória e os seus 43 anos notam-se em cada palavra. Vou tentar fazer a tradução de letras de alturas diferentes da sua carreira, para realçar os contrastes e evitar a monotonia de temas.
Este "Livro dos sonhos" é poesia em forma de prosa. Em Inglês ou Português, é lindíssima a letra...

"Book Of Dreams" (1992)

Livro dos sonhos

Estou no quintal a ouvir a festa lá dentro
Hoje à noite estou a beber no perdão que esta vida nos dá
As cicatrizes que carregamos ficam, mas a dor desaparece, assim parece
Ó, não ficas tu, querida, no meu livro dos sonhos?

Observo-te através da janela com as tuas amigas lá da terra
Tu estás a mostrar o teu vestido, há sorrisos e um brinde
Do teu papá para a noiva mais bonita que ele alguma vez viu
Ó, não ficas tu, querida, no meu livro dos sonhos?

Na escuridão os meus dedos escorregam por entre a tua pele
Sinto a tua doce resposta
O quarto vai desaparecendo e de repente eu estou bem lá em cima
Apenas a abraçar-te para mim, enquanto através da janela o jorra a luz da lua
Ó, não ficas tu, querida, no meu livro dos sonhos?

Agora o ritual começa
Perto da grinalda de casamento encontramo-nos como estranhos
A pista de dança está viva com beleza, mistério e perigo
Dançamos lá fora perto da antiga luz das estrelas para as árvores que vão escurecendo
Ó, não ficas tu, querida, no meu livro dos sonhos?

11.7.03

Greetings!

Bem-vindos ao Channel 57, o meu blog para dissertar sobre as palavras de Bruce Springsteen.
Como músico, é conhecido por todos. Aqui, vou tentar dá-lo a conhecer como o poeta urbano e exímio contador de histórias que poucos conhecem. Mais do que a sua música, foram as suas palavras, suportadas numa coerência notável, que o tornam na minha referência pessoal.
Vou pondo por aqui as traduções para Portugues das letras de algumas das suas canções. Tentarei ser o mais fiel possível ao original, mantendo nomes de personagens e lugares, mas adaptando certas palavras e expressões para que traduzam o sentido correcto e não literal.

Começo com uma das minhas canções favoritas de sempre: Jungleland.

"Jungleland" (1974)

Os guardas tiveram uma recepção em Harlem, ontem ao fim da noite
E o Magic Rat conduziu a sua máquina cheia de estilo para lá da fronteira do estado de Jersey
Rapariga descalça sentada no capot de um Dodge, a beber cerveja morna na suave chuva de Verão
O Rat dirige-se à cidade, veste as calças
Juntos dão uma punhalada no romance e desaparecem em Flamingo Lane
O Maximum Lawman percorre Flamingo, perseguindo o Rat e a rapariga descalça
E os miúdos aqui parecem-se com sombras, sempre calados, de mãos dadas
Das igrejas às prisões, hoje à noite tudo é silêncio no mundo
Enquanto tomamos o nosso lugar em Jungleland

O gangue da meia-noite está reunido, e escolheu um encontro para a noite
Eles vão encontrar-se debaixo daquele cartaz gigante da Exxon, que traz a luz a esta cidade justa
Olha, há uma ópera lá no Turnpike
Há um ballet a ser travado lá no beco
Até que os polícias locais, Capotas de Cereja, acabam com esta santa noite
As ruas estão vivas enquanto dívidas secretas são pagas
Contactos estabelecidos, eles desaparecem sem serem vistos
Miúdos tratam guitarras tal como lâminas, atropelando-se para a máquina de discos
Os famintos e os perseguidos explodem em bandas de rock'n'roll
Que se encontram uns contra os outros nas ruas em Jungleland

No parque de estacionamento, os visionários vestem-se com o último grito da moda
Dentro do beco, raparigas dançam ao som dos discos que o DJ toca
Amantes de corações solitários lutam nas esquinas sombrias
Desesperados enquanto a noite avança, apenas um olhar e um suspiro, e eles desaparecem

Debaixo da cidade, dois corações batem
Motores da alma correm através da noite tão terna
Num quarto trancado, em suspiros de suave recusa e depois a rendição
Nos túneis da parte alta da cidade
O próprio sonho do Rat atira-o ao chão enquanto tiros ecoam pelos corredores na noite
Ninguém vê quando a ambulância se afasta
Ou enquanto a rapariga desliga a luz do quarto
Lá fora a rua está em fogo numa verdadeira valsa da morte
Entre o que é carne e o que é fantasia
E os poetas aqui não escrevem absolutamente nada
Eles apenas se afastam e deixam tudo acontecer
E na rapidez da noite, eles tentam alcançar o seu momento
E tentam tomar uma posição honesta
Mas eles acabam feridos, nem sequer mortos
Esta noite em Jungleland