11.9.06

Hoje assinala-se o 5º aniversário do mais chocante acto terrorista dos tempos modernos. Não foram apenas os EUA que foram atacados no dia 11 de Setembro de 2001. Foi a própria liberdade. Springsteen abriu a noite de tributo às vítimas do 11 de Setembro com uma canção lindíssima. Apesar de ter sido escrita no início da década de 90 para retratar o estado da sua Freehold natal, "My City Of Ruins" adequou-se, quiçá de maneira tão inesperada como assustadora, à tragédia de Nova Iorque. Sem mais palavras...


"My City Of Ruins" (2002)

Minha Cidade De R
uínas





Há um círculo vermelho de sangue
No negro frio chão
E a chuva está a cair
As portas da igreja estão completamente abertas
Eu consigo ouvir a canção do orgão
Mas a congregação já lá não está
Minha cidade de ruínas
Minha cidade de ruínas

Agora os doces sinos da misericórdia
Vagueiam pelas árvores do anoitecer
Jovens rapazes na esquina
Como folhas dispersas,
As janelas cobertas de tábuas,
As ruas vazias
Enquanto o meu irmão está no chão de joelhos
Minha cidade de ruínas
Minha cidade de ruínas

Vamos, levanta-te! Vamos, levanta-te!
Vamos, levanta-te! Vamos, levanta-te!
Vamos, levanta-te! Vamos, levanta-te!

Agora há lágrimas na almofada
Querida, onde dormimos
E tu levaste o meu coração quando partiste
Sem o teu doce beijo
A minha alma está perdida, minha amiga
Diz-me como vou começar outra vez?
A minha cidade está em ruínas
A minha cidade está em ruínas

Agora com estas mãos,
Com estas mãos,
Com estas mãos,
Eu rezo, Senhor
Com estas mãos,
Com estas mãos,
Eu rezo pela força, Senhor
Com estas mãos,
Com estas mãos,
Eu rezo pela fé, Senhor
Nós rezamos pelo Teu amor, Senhor
Nós rezamos pelos que se perderam, Senhor
Nós rezamos por este mundo, Senhor
Nós rezamos pela força, Senhor
Nós rezamos pela força, Senhor

Vamos
Vamos
Vamos, levanta-te
Vamos, levanta-te
Vamos, levanta-te
Vamos, levanta-te
Vamos, levanta-te
Vamos, levanta-te
Vamos, levanta-te
Vamos, levanta-te
Vamos, levanta-te

7.8.06


Continuando a explorar o belíssimo livro de contos que é o "Devils & Dust", segui a sugestão do Márcio e acabei a tradução de uma das mais belas histórias do album. Nem preciso de escrever mais nada. Ponham o cd, escolham a faixa 5, e leiam aqui as legendas...

"Black Cowboys" (2005)

Cowboys Negros

O recreio de Rainey Williams ficava entre as ruas de Mott Haven
onde ele corria passando por velas derretidas e coroas de flores,
nomes e fotografias dos rostos de jovens negros,
cuja morte e sangue consagraram estes lugares.

A mãe de Rainey dizia, "Rainey, fica a meu lado,
pois tu és a minha benção, tu és o meu orgulho.
É o teu amor aqui que mantém a minha alma viva.
Quero que venhas para casa da escola e fiques cá dentro."

Rainey faz os seus trabalhos e arruma os seus livros.
Havia um canal que exibia um filme de cowboys todos os dias.
Lynette trazia-lhe para casa livros dos cowboys negros da zona de Oklahoma
e dos batedores Seminole que combateram as tribos das Grandes Planícies.

Chega o Verão e os dias duram mais,
Rainey sempre teve o sorriso da sua mãe para se apoiar.
Ao longo de uma rua de balas perdidas ele fazia o seu caminho,
para o calor dos braços dela ao fim de cada dia.

Chega o Outono, a chuva inundou estes lares.
Aqui no vale de Ezequiel dos ossos molhados,
caiu com força e sombria até ao chão.
Caiu sem qualquer som.

Lynette alinhou com um homem cujo negócio era a avenida,
cujo sorriso estava fixo num rosto que nunca era apanhado desprevenido.
Junto aos canos debaixo do lava-louças, os seus segredos ele guardava.
Durante o dia, atrás de cortinas corridas, no quarto de Lynette ele dormia.

Então ela perdeu-se nos dias.
O sorriso no qual Rainey se apoiava foi desaparecendo.
Os braços que o seguravam não eram mais o seu lar.
Ele ficava à noite com a sua cabeça encostada ao peito dela a ouvir o fantasma nos seus ossos.

Na cozinha, Rainey deslizou a sua mão por entre os canos.
De um saco castanho tirou quinhentas notas e enfiou-as no bolso do seu casaco,
ficou na escuridão ao pé da cama da sua mãe,
afagou-lhe o cabelo e beijou os seus olhos.

No crepúsculo, Rainey caminhou até à estação em ruas de pedra.
Através da Pensilvânia e do Ohio o seu comboio vagueou.
Através das pequenas cidades de Indiana o grande comboio arrastou-se,
enquanto ele deitou a sua cabeça para trás no seu banco e dormiu.

Ele acordou e as cidades deram lugar a verdes campos de lama,
milho e algodão e um interminável nada pelo meio
Por cima das colinas cheias de sulcos do Oklahoma o sol vermelho deslizou e foi embora.
A lua levantou-se e despiu a terra até aos seus ossos.

10.7.06

Hoje assiste-se ao renascimento do Channel 57. Depois de mais de um ano de actividade, justificado pelo nascimento do meu filho e pela minha própria preguiça, eis-nos de volta, qual E Street Band em 1999.

Alguns dos poucos leitores do blog manifestaram o desejo de o voltar a ver activo e isso foi o principal motivo para este regresso, passado tanto tempo.

Springsteen, entretanto, lançou "We Shall Overcome: the Seeger Sessions" de homenagem a Pete Seeger. Uma vez que este blog se dedica às palavras de Springsteen, vou regressar às traduções tal como parti, há mais de um ano atrás: com Devils & Dust.

"Jesus Was An Only Son" é uma canção mais especial para mim agora do que quando a ouvi pela primeira vez. A experiência de ser pai muda tudo. Este é um lugar-comum perfeitamente verdadeiro, e o nosso próprio Springsteen já o referiu por várias vezes. Falar de Jesus na sua condição de filho de Maria e não de filho de Deus, é algo pouco visto. Springsteen fá-lo aqui com o dom que só ele tem, tornando a dimensão humana de Jesus num plano não inferior à sua condição divina, e revelando o amor de e pela sua mãe de uma forma poderosa e verdadeira. Mais palavras para quê? O que interessa vem já a seguir...

"Jesus Was An Only Son" (2005)

Jesus Foi Filho Único



Bem, Jesus foi filho único
Enquanto subia o Monte do Calvário
A sua mãe Maria caminhando a seu lado
No caminho onde o seu sangue era derramado

Jesus foi filho único
Nas colinas de Nazaré
Enquanto ele se deitava a ler os Salmos de David
Seguro aos pés de sua mãe

A sua mãe rezava "Dorme aconchegado, meu filho, dorme bem.
Porque eu estarei a teu lado.
Não deixarei que nenhuma sombra, nenhuma escuridão, nenhum dobrar de sino
Atravesse os teus sonhos esta noite"

No jardim de Getsemani,
Ele rezou pela vida que nunca viveria
Ele suplicou ao seu Pai celestial
Que removesse a taça da morte dos seus lábios

Agora, há uma perda que nunca poderá ser reparada
Um destino que nunca poderá ser alcançado
Uma luz que nunca encontrarás no rosto de uma mãe
O mar cuja distância não pode ser rompida

Bem, Jesus beijou as mãos de sua mãe
E murmurou "Mãe, por favor, segura as tuas lágrimas.
Lembra-te que a alma do universo
Desejou um mundo e ele apareceu."