7.8.06


Continuando a explorar o belíssimo livro de contos que é o "Devils & Dust", segui a sugestão do Márcio e acabei a tradução de uma das mais belas histórias do album. Nem preciso de escrever mais nada. Ponham o cd, escolham a faixa 5, e leiam aqui as legendas...

"Black Cowboys" (2005)

Cowboys Negros

O recreio de Rainey Williams ficava entre as ruas de Mott Haven
onde ele corria passando por velas derretidas e coroas de flores,
nomes e fotografias dos rostos de jovens negros,
cuja morte e sangue consagraram estes lugares.

A mãe de Rainey dizia, "Rainey, fica a meu lado,
pois tu és a minha benção, tu és o meu orgulho.
É o teu amor aqui que mantém a minha alma viva.
Quero que venhas para casa da escola e fiques cá dentro."

Rainey faz os seus trabalhos e arruma os seus livros.
Havia um canal que exibia um filme de cowboys todos os dias.
Lynette trazia-lhe para casa livros dos cowboys negros da zona de Oklahoma
e dos batedores Seminole que combateram as tribos das Grandes Planícies.

Chega o Verão e os dias duram mais,
Rainey sempre teve o sorriso da sua mãe para se apoiar.
Ao longo de uma rua de balas perdidas ele fazia o seu caminho,
para o calor dos braços dela ao fim de cada dia.

Chega o Outono, a chuva inundou estes lares.
Aqui no vale de Ezequiel dos ossos molhados,
caiu com força e sombria até ao chão.
Caiu sem qualquer som.

Lynette alinhou com um homem cujo negócio era a avenida,
cujo sorriso estava fixo num rosto que nunca era apanhado desprevenido.
Junto aos canos debaixo do lava-louças, os seus segredos ele guardava.
Durante o dia, atrás de cortinas corridas, no quarto de Lynette ele dormia.

Então ela perdeu-se nos dias.
O sorriso no qual Rainey se apoiava foi desaparecendo.
Os braços que o seguravam não eram mais o seu lar.
Ele ficava à noite com a sua cabeça encostada ao peito dela a ouvir o fantasma nos seus ossos.

Na cozinha, Rainey deslizou a sua mão por entre os canos.
De um saco castanho tirou quinhentas notas e enfiou-as no bolso do seu casaco,
ficou na escuridão ao pé da cama da sua mãe,
afagou-lhe o cabelo e beijou os seus olhos.

No crepúsculo, Rainey caminhou até à estação em ruas de pedra.
Através da Pensilvânia e do Ohio o seu comboio vagueou.
Através das pequenas cidades de Indiana o grande comboio arrastou-se,
enquanto ele deitou a sua cabeça para trás no seu banco e dormiu.

Ele acordou e as cidades deram lugar a verdes campos de lama,
milho e algodão e um interminável nada pelo meio
Por cima das colinas cheias de sulcos do Oklahoma o sol vermelho deslizou e foi embora.
A lua levantou-se e despiu a terra até aos seus ossos.