9.9.04

Greetings!

De volta depois das férias. Ok, eu confesso, não foram apenas as férias o motivo de tão longa falta de actualização do canal 57. A minha preguiça ajudou à parcimónia de posts.
A noite, assim como a estrada, é um dos temas favoritos do Springsteen. Depois de "Drive All Night", mais uma canção onde a parte do dia iluminada pela lua é referência. A noite pode servir de abrigo, de disfarce, de desculpa. Pode servir, neste caso, de refúgio de amantes. A sofreguidão e intensidade da paixão descrita nesta canção é algo que não nos deixa respirar, que nos consome e agita, que não nos deixa indiferentes. Escrita em parceria com Patti Smith, "Because the night" (pode ser encontrada no album "Easter" e foi lançado como single em 1978, tendo atingido o top 10 americano) nunca foi lançada num album de estúdio do Springsteen, mas a versão ao vivo q se encontra na caixa "Live 1975-85" é lendária para súbditos como nós. Porque a noite, também pertence aos fãs...

"Because the Night" (1977)

Porque A Noite

Aceita-me agora, querida, aqui como estou
Puxa-me para perto de ti, tenta e compreende
Desejo é fome, é o fogo que respiro
Amor é o banquete onde nos alimentamos
Anda agora, tenta e compreende

A maneira que me sinto quando estou na tua mão
Toma a minha mão, vem escondida
Eles não te podem magoar agora, não te podem magoar agora, não te podem magoar agora

Porque a noite pertence aos amantes,
Porque a noite pertence à luxúria,
Porque a noite pertence aos amantes,
Porque a noite pertence-nos a nós

Terei dúvidas quando estou sozinho?
Amor é um toque no telefone
Amor é um anjo disfarçado de luxúria,
Aqui na nossa cama até a manhã chegar

Anda agora, tenta e compreende
A maneira que me sinto sob o teu comando
Toma a minha mão enquanto o sol desce
Eles não te podem tocar agora, não te podem tocar agora, não te podem tocar agora

Porque a noite pertence aos amantes,
Porque a noite pertence à luxúria,
Porque a noite pertence aos amantes,
Porque a noite pertence-nos a nós

Com amor nós dormimos, com a dúvida o círculo vicioso dá voltas e voltas
Sem ti eu não consigo viver, perdoa a ânsia, ardente
Eu acredito no tempo, demasiado real para sentir,
Por isso toca-me agora, toca-me agora, toca-me agora

Porque a noite pertence aos amantes,
Porque a noite pertence à luxúria,
Porque a noite pertence aos amantes,
Porque a noite pertence-nos a nós

17.7.04

Greetings!
 
No início da década de 80, o álbum "The River" marcou uma viragem na música do Springsteen, em termos melódicos e líricos. Uma das músicas desse album marcou uma discussão interessante entre os membros da mailing list sobre se a frase "Eu juro que conduziria toda a noite apenas para te comprar uns sapatos" era completamente despropositada ou se mostrava uma sensibilidade que só as mulheres conseguem compreender. Eu continuo na dúvida, mas gosto muito de "Drive All Night"...
 
 
"Drive All Night" (1980)

Conduzo Toda A Noite

Quando te perdi, querida, por vezes penso que perdi a minha coragem também
E desejei que Deus me tivesse enviado uma palavra, enviado algo que tenho tenho medo de perder
Deitados no calor da noite, como prisioneiros durante todas as nossas vidas
Eu sinto arrepios na minha espinha e tudo o que quero fazer é abraçar-te com força

Eu juro que conduziria toda a noite apenas para te comprar uns sapatos
E para provar os teus meigos encantos
E apenas quero dormir esta noite mais uma vez nos teus braços

Hoje à noite há anjos caídos e eles estão à nossa espera lá na rua
Hoje à noite há estranhos que chamam, ouço-os a chorar na derrota
Deixa-os ir, deixa-os ir, deixa-os ir para fazer as suas danças dos mortos
Deixa-os ir bem à frente
Apenas enxuga os teus olhos, rapariga, e anda, anda, anda, vamos para a cama
 
Querida, querida, querida
Eu juro que conduziria toda a noite apenas para te comprar uns sapatos
E para provar os teus meigos encantos
E apenas quero dormir esta noite mais uma vez nos teus braços

Há máquinas e há fogo à espera à saída da cidade
Estão lá para serem contratados, mas querida eles não nos podem magoar agora
Porque tu tens, tu tens, tu tens o meu, o meu amor, rapariga
Tu tens o meu amor, rapariga
Através do vento, através da chuva, da neve, do vento, da chuva
Tu tens, tu tens o meu, o meu amor, ó rapariga tu tens o meu amor
Tu tens, tu tens o meu amor, ó rapariga tu tens o meu amor
Tu tens, tu tens o meu amor, ó rapariga tu tens o meu amor
Tu tens, tu tens o meu amor, ó rapariga tu tens o meu amor
Coração e alma, coração e alma
Coração e alma, coração e alma
Não chores agora
Não chores agora
Não chores agora
Não chores agora...

29.6.04

Greetings!
Estas prolongadas ausências estão a tornar-se num mau hábito, e como castigo para mim próprio, tive dose dupla de trabalho.
O Springsteen tem esta capacidade extraordinária de nos surpreender quando menos esperamos. A caixa de "Tracks" teve algumas surpresas, e embora o "Brothers Under The Bridges" de 1983 já fosse conhecido, o "Brothers Under The Bridge" de 1995 foi uma das surpresas para a maior parte das pessoas. 12 anos de diferença notam-se nas duas canções que são dois capítulos da mesma história, tão diferentes, mas tão complementares. Em 1983 sonhava-se com carros e raparigas, sentia-se o companheirismo e toda a emoção da juventude. Em 1995, a tristeza, as recordações da guerra, o esfumar dos sonhos, as mesmas personagens, mas apenas uma ponte...


"Brothers Under The Bridges" (1983)

Irmãos Debaixo Das Pontes

Bem, em cada Primavera, quando o tempo fica quente
Eles caem na cidade directamente das suas quintas
Conduzindo 455s, a andar duro e com força
Eles foram construídos do nada nas suas barracas de ferramentas durante todo o Inverno
Debaixo das armações a beber a cerveja e o vinho
Alguns vieram para as corridas, outros apenas para passar o tempo
Com os irmãos debaixo das pontes

Eu e o Tommy tínhamos apenas catorze anos, ainda não tínhamos as nossas cartas
As nossas paredes estavam cobertas de fotografias de carros que iríamos ter
Nós escutávamos e esperávamos para que aquela auto-estrada rugisse e estremecesse
Enquanto eles conduziam através da cidade nas folgas do fim-de-semana
Trazendo raparigas com aquele olhar distante nos seus olhos
Agora, juntos, debaixo das armações eles estariam a rir na noite
Com os irmãos debaixo das pontes

Bem, eu e o meu irmão costumávamos apanhar uma boleia na pickup do Joey até aos limites da cidade
E víamos a partir da erva alta os desafios a serem feitos e os duelos a serem travados
Costumávamos pedir boleia de volta para casa, entrar sem ninguém ver, e metermo-nos na cama antes da nossa mãe chegar
E ficávamos ali deitados na noite a falar sobre como poderíamos um dia ser um deles
Sim, um dia correr com os irmãos debaixo das pontes

Bem, agora eu ouço um grito à distância e o som de pés a marchar, que cá estão ou já foram
Bem, estou aqui sentado nesta auto-estrada a pensar, apenas a pensar onde, onde é que eu pertenço
Hoje à noite aqui em cima em Signal Hill
Eu observo um jovem com uma camisa vermelha a caminhar através da noite tão quieta
Põe o seu casaco à volta da sua rapariga enquanto o vento de Outono envia um arrepio
Através dos irmãos debaixo das pontes

.....................................................................................

"Brothers Under The Bridge" (1995)

Irmãos Debaixo Da Ponte

Saigão, tudo foi perdido
As mesmas máquinas de Coca-Cola das ruas em que cresci
Atravessando um desfiladeiro de Mesquite, caminhámos ao longo da colina
Eu e os irmãos debaixo da ponte

O acampamento fica a uma hora de caminho da estrada mais próxima para a cidade
Aqui há demasiado desfiladeiro e matagal para os helicópteros CHP aterrarem
Não estou à procura de nada, apenas quero viver
Eu e os irmãos debaixo da ponte

Com a chegada de Santa Ana, homem, aquele matagal seco irá acender-se
Billy Devon ardeu na sua própria fogueira do acampamento numa noite de Inverno
Enterrámos o seu corpo na pedra branca lá em cima ao longo da colina
Eu e os irmãos debaixo da ponte

Estava farto da cidade e da vida das ruas
Por nada, tu acabas no lado errado da faca de alguém
Agora, eu não quero sarilhos e não tenho nenhuns para dar
Eu e os irmãos debaixo da ponte

Eu vim para casa em '72
Tu eras apenas uma linda luz nos escuros olhos de azul da tua mãe
Eu fiquei lá no alcatrão, eu era apenas um miúdo
Eu e os irmãos debaixo da ponte

Chega o Dia dos Veteranos, eu sento-me nas bancadas na minha farda triste
Seguro na mão da tua mãe quando eles passam com o vermelho, branco e azul
Um minutos estás mesmo aqui... e então algo se perde...

20.5.04

Greetings!

Voltando ao final da década de 70, notavam-se alterações nos assuntos das letras do Springsteen, depois de toda a raiva contida demonstrada no "Darkness...". Parece que uma nova fase na vida e na música dele começou com o "The River", onde escrevia sobre assuntos e situações que lhe diziam directamente respeito, mas também tentava retratar emoções ou possíveis situações que lhe poderiam acontecer a ele. Mais uma vez, uma canção sobre perda, mas uma perda que não aconteceu na realidade, mas sobre a qual a personagem da canção se apercebeu que era algo possível e isso era o suficiente para lhe tirar o sono durante a noite. Infelizmente, uma canção que no nosso país é a imagem das tragédias que todos os anos acontecem nas estradas Portuguesas...

"Wreck On The Highway" (1980)

Desastre Na Auto-Estrada

Ontem à noite eu estava a conduzir
Vinha para casa ao fim do dia de trabalho
Eu viajava sozinho através dos chuviscos
Numa desertificada extensão de estrada de duas faixas no condado
Quando me deparei com um desastre na auto-estrada

Havia sangue e vidro por toda a parte
E não estava ali ninguém a não ser eu
Enquanto a chuva desabava forte e fria
Vi um rapaz deitado ao lado da estrada
Ele gritou "Senhor, não me pode ajudar, por favor?"

Finalmente, uma ambulância veio e levou-o para o hospital de Riverside
Eu observei enquanto o levavam embora
E pensei numa namorada ou numa jovem esposa
E um agente a bater à porta no meio da noite
Para dizer que o teu amor morreu num desastre na auto-estrada

Por vezes fico sentado na escuridão
E observo a minha querida enquanto ela dorme
Então subo para a cama e abraço-a com força
Fico apenas ali acordado no meio da noite
A pensar no desastre na auto-estrada

5.5.04

Greetings!

A procura e a estrada foram sempre pontos centrais na escrita do Springsteen, sobretudo no início da sua carreira. Há uma canção q sempre me despertou curiosidade, pelos diversos sentidos q parece ter. O narrador da história de "Iceman" parece alguém completamente destroçado ao ponto de afirmar q já nasceu morto. Mas mesmo assim, prossegue a sua procura, porque é a procura que lhe permite viver. Uma letra perturbante numa canção genialmente sombria do início da carreira e q podemos encontrar no disco 1 de "Tracks"

"Iceman" (1977)

Homem-gelo

Cidade adormecida não tem a coragem para se mexer
Querida, este vazio já foi julgado
Eu quero sair esta noite, quero saber aquilo que tenho
Tu és uma parte estranha de mim, tu és a rapariga de um pregador
E eu não quero qualquer parte deste mundo mecânico
Tenho os meus braços bem abertos e o meu sangue corre quente
Tomaremos a estrada da meia-noite directamente para a porta do diabo
E nem mesmo os anjos brancos do Éden com as suas espadas flamejantes
Nos poderão impedir de atingir a cidade neste velho e sujo Ford
Bem, não é preciso ter coragem quando tu não tens nada para guardar
Eu tenho uma lápide nos meus olhos e estou a correr mesmo no duro
A minha querida era uma amante e o mundo acabou com ela

Uma vez tentaram roubar o meu coração, arrancá-lo à força da minha cabeça
Bem querida, eles não sabiam que eu já nasci morto
Eu sou o homem-gelo, a lutar pelo direito a viver
Eu digo que melhor do que as gloriosas estradas do Céu
Melhor ainda do que viajar na poeira pelos limites do inferno
Melhor do que a linha brilhante da auto-estrada
Melhor do que as sombras da igreja do teu pai
Melhor do que a espera
Querida, melhor ainda é a procura

18.4.04

Greetings!

Depois da reprimenda do Lourenço por mais uma longa paragem deste blog, eis que volto à carga com algo que servirá, de alguma forma, para o compensar. "Born In The U.S.A." é o responsável por 99% dos casos de Brucemania que assolam a nossa mailing list, e foi o album que projectou Springsteen à escala planetária. Um album que, embora na minha opinião não seja dos seus melhores trabalhos, constituiu o maior sucesso comercial de sempre da carreira de Springsteen, com 7 singles retirados dele e uma série destes a chegar ao 1o. lugar de vários tops, onde "Dancing In The Dark", o primeiro dos singles, ocupa lugar de destaque. Em "The River", já se notava uma aproximação a um som mais comercial, mas o magnífico "Nebraska" de 1982 veio mostrar o lado sombrio, quiçá o mais honesto e verdadeiro, do universo Springsteen. Mas o homem tem o condão de transformar a noite em dia, e algumas canções que foram escritas para o "Nebraska" e que acabaram por não ser incluídas nele, foram aproveitadas para o disco seguinte, "Born In The U.S.A.". Só mesmo o Springsteen pode gravar a mesma canção para dois albums tão diferentes e, no entanto, fazer parecer que estão no sítio certo. Uma dessas canções foi aquela que deu o nome ao album. Mas o original, gravado nas sessões do "Nebraska" e que está na caixa "Tracks", é, para mim, a melhor de todas e aquela que melhor exprime o seu sentico. E para que, de uma vez por todas, ninguém pense que "Born In The U.S.A." é um hino ao patriotismo bacoco, aqui está a letra, em Português...

"Born In The U.S.A." (1981)

Nascido nos E.U.A.

Nascido numa cidade de homens mortos
O primeiro pontapé que apanhei foi quando caí ao chão
Acabar como um cão que foi espancado demasiadas vezes
Até que acabas por gastar metade da tua vida apenas a encobrir
Nascido nos E.U.A., Eu nasci nos E.U.A.
Eu nasci nos E.U.A., Nascido nos E.U.A.

Meti-me num aperto na minha pequena terra natal
Por isso eles puseram uma arma na minha mão
Mandaram-me para uma terra estrangeira
Para ir matar os homens amarelos

Nascido nos E.U.A., Eu nasci nos E.U.A.
Eu nasci nos E.U.A., Nascido nos E.U.A.

Voltei para casa, para a refinaria
O capataz disse "Filho, se dependesse de mim..."
Fui ter com o homem da Associação de Veteranos
Ele disse "Filho, será que não percebes..."

Eu tinha um irmão em Khe Sahn
A lutar contra os Vietcong
Eles ainda lá estão, ele já cá não está

Ele tinha uma mulher que amava em Saigão
Tenho uma fotografia dele nos seus braços

Lá na sombra da penitenciária
Perto dos gases dos fogos da refinaria
Estou dez anos a queimar-me na estrada
Nenhum sítio para fugir, não tenho nenhum sítio para ir

Nascido nos E.U.A., Eu nasci nos E.U.A.
Nascido nos E.U.A., Sou um pai que há muito se foi nos E.U.A.
Nascido nos E.U.A., Nascido nos E.U.A.
Nascido nos E.U.A., Sou um pai que há muito se foi nos E.U.A.

16.3.04

Greetings!

Mais uma longa ausência deste blog pelos mesmos motivos de sempre somados ao bom motivo de ter estado de férias! Uma das minhas canções preferidas do "The Rising" é também aquela q é a excepção quando eu esperava q fosse a regra desse album, depois de saber q seria produzido pelo Brendan O'Brien. Ou seja, depois das colaborações desse senhor com os Pearl Jam e Soundgarden, entre outros, esperava um som forte e um rock cru em "The Rising", mas há apenas uma canção destas em todo o album, e é uma grande canção, aqui, ou mais à frente, lá na estrada...

"Further On (Up The Road)" (2002)

"Mais à frente (lá na estrada)"

Onde a estrada é escura
E a semente é semeada
Onde a arma está destravada
E a bala está fria
Onde as milhas estão marcadas a sangue e ouro
Encontrar-me-ei contigo mais à frente, lá na estrada

Peguei no meu fato de homem morto
E no meu anel da caveira sorridente
As minhas botas de cemitério da sorte
E uma canção para cantar
Tenho uma canção para cantar
Para me manter longe do frio
E encontrar-me-ei contigo mais à frente, lá na estrada

Mais à frente, lá na estrada
Mais à frente, lá na estrada
Onde o caminho é escuro
E a noite é fria
Numa manhã de sol,
Levantar-nos-emos, eu sei
E encontrar-me-ei contigo mais à frente, lá na estrada

Eu estive lá fora no deserto
Apenas a cumprir a minha pena
Procurando através da poeira
À procura de um sinal
Se há uma luz lá mais à frente,
Bem, irmão, eu não sei
Mas tenho esta febre,
A arder na minha alma
Por isso peguemos nos bons tempos enquanto eles passam
E encontrar-me-ei contigo mais à frente, lá na estrada

Mais à frente, lá na estrada
Mais à frente, lá na estrada
Mais à frente, lá na estrada
Mais à frente, lá na estrada
Numa manhã de sol,
Levantar-nos-emos, eu sei
E encontrar-me-ei contigo mais à frente, lá na estrada
Numa manhã de sol,
Levantar-nos-emos, eu sei
E encontrar-me-ei contigo mais à frente, lá na estrada

16.2.04

Greetings!

Depois de uma pausa mais longa do que o habitual, mais uma vez motivada por motivos profissionais, eis que volto antes das minhas férias que terão início na próxima semana. Para o álbum "Born In The USA", Springsteen escreveu mais de uma centena de canções, o que significa que muito material dessa altura não chegou a ver a luz do dia ou apenas o fez com o lançamento do "Tracks" ou em lados B. Uma das muitas canções deste lote contém aquele que, para Max Weinberg, é um o verso mais bonito escrito pelo Springsteen. Se é o mais bonito, não sei, mas sei que este "This Hardland" tresanda a esperança, liberdade e fuga numa terra dura. O tal verso, o último, é ele próprio um hino à resistência humana. E nós cá continuamos: fortes, famintos e vivos, nesta terra dura.


"This Hardland"(1984)

Esta terra dura

Ei, senhor, pode dizer-me o que aconteceu às sementes que eu semeei?
Pode dar-me uma razão, senhor, para elas nunca terem crescido?
Elas apenas foram sopradas de cidade em cidade
Até estarem de volta a estes campos
Sim, onde caem da minha mão
De volta ao solo desta terra dura

Eu e a minha irmã, de Germantown, sim, nós viajámos
Fizemos a nossa cama a partir das rochas nas cavidades da montanha
Temos sido soprados de cidade em cidade
À procura de um lugar para assentar
Onde o Sol rompa por entre a nuvem
E caia como um círculo
Como um círculo de fogo neste terra dura

Agora, até a chuva não aparece
Não aparece por aqui nunca mais
E o único som à noite é o vento
Que faz bater a porta do alpendre de trás
Ele apenas te mexe como se te quisesse atirar ao chão com um sopro
Rodopiando e agitando a areia com força
Deixando todos aqueles espantalhos estendidos no chão
Estendidos no chão, na sujidade desta terra dura

De um edifício lá em cima na colina
Eu consigo ouvir um leitor de cassetes a estourar "Home on the Range"
Eu consigo ver aqueles helicópteros Bar-M
A varrer baixinho através das planícies
Sou eu e tu, Frank, estamos à procura de gado perdido
As doenças do gado, rodopiando e agitando a areia com força
Estamos a cavalgar no moinho de vento à procura de um tesouro perdido
Bem lá para Sul do Rio Grande
Estamos a cavalgar através desse rio, ao luar
Até às margens desta terra dura

Ei Frank, não queres fazer as tuas malas e encontrar-te comigo hoje à noite no Hall da Liberdade
Apenas um beijo teu, meu irmão, e caminharemos até cairmos
Dormiremos nos campos, dormiremos ao pé dos rios e na manhã faremos um plano
Bem, se não conseguires
Fica forte, fica faminto, fica vivo
Se conseguires
E encontra-me num sonho desta terra dura

20.1.04

Greetings!

Há uma música que sempre desejei ouvir ao vivo desde que pus as minhas mãos no concerto para o Main Point em 1974, o tal que foi transmitido na rádio. A versão desse concerto é absolutamente genial e assombradoramente bela. O início com o piano e o violino e "o Spanish Johnny a tentar vender corações às meninas difíceis da Rua Fácil" criaram uma atmosfera absolutamente fantástica neste concerto. E agora ele tocou-a outra vez nesta última digressão. E alguns dos fãs portugueses estiveram lá em Barcelona para ver e ouvir um Springsteen com 54 anos, sozinho no palco, sentado ao piano, com a mesma magia de 1974 a tocar o fantástico "Incident...". Ainda bem que o DVD nos deixa recordar esses momentos sempre que queremos. Uma das melhores canções de sempre...

"Incident On The 57th Street" (1972)

Incidente na 57a. rua

O Johnny Espanhol chegou ontem à noite do submundo
Com braços marcados e o ritmo quebrado e um velho Buick batido,
Mas vestido como dinamite
Ele tentou vender o seu coração às raparigas difíceis lá na Rua Fácil
Mas elas suspiraram, "Johnny, ele parte-se com tanta facilidade
e tu sabes que os corações hoje em dia são baratos..."
E os chulos giravam os seus machados e diziam, "Johnny, és um batoteiro!"
Bem, os chulos giravam os seus machados e diziam, "Johnny, és um mentiroso!"
E vinda das sombras surgiu a voz de uma jovem rapariga, que dizia,
"Johnny não chores..."
Jane Porto-Riquenha, oh, não me dizes qual é o teu nome?
Quero conduzir-te até ao outro lado da cidade
Onde o paraíso não está tão cheio e haverá acção em Shanty Lane esta noite
Todas as fadas com saltos altos dourados numa verdadeira luta-cabra
Puxam os seus 38 mm,
E dão um beijo de boas noites às suas meninas

Boa noite, está tudo bem, Jane
Agora deixa esses rapazes negros entrar para iluminar a chama da alma
Talvez a possamos encontrar na rua hoje à noite, querida,
Ou possamos caminhar até à luz do dia, talvez...

Tal como um Romeu cheio de estilo, ele fazia as suas investidas, oh, ela era tão bonita
Tal como uma Julieta atrasada, ela sabia que ele nunca seria verdadeiro,
Mas ela, na verdade, não se importava
Lá em cima a banda tocava e o cantor cantava qualquer coisa sobre voltar a casa
Ela murmurou, "Johnny Espanhol, tu podes deixar-me esta noite, mas só não me deixes sozinha."
E o Johnny suplicou, "Jane Porto-Riquenha, há o boato de que os polícias encontraram o filão."
Aqueles rapazes pé-descalços deixaram as suas casas para os bosques
Aqueles pequenos rapazes pé-descalços da rua disseram que as suas casas não eram boas
Eles deixaram as esquinas, atiraram fora as suas navalhas de ponta-e-mola
E deram uns aos outros um beijo de despedida

O Johnny estava sentado na escada de incêndio a observar os miúdos a brincar lá em baixo na rua
Ele chamou-os "Ei, pequenos heróis, o Verão é longo mas se calhar já não é tão doce por aqui"
Janey dorme dentro de lençóis ensopados de suor, Johnny senta-se sozinho e observa-a a sonhar, a sonhar,
E a sua irmã reza por almas perdidas e sucumbe na capela depois de todos terem ido embora
Jane chega-se para partilhar a sua almofada mas abre os olhos para ver o Johnny levantado e a vestir-se
Ela diz, "Esses jovens rapazes românticos, tudo o que querem fazer é andar à luta."
Esses jovens rapazes românticos, chamam através da janela:
"Eu, Johnny Espanhol, queres ganhar um pouco de dinheiro fácil esta noite?"
E o Johnny murmurou,

"Boa noite, está tudo certo Jane.
Encontrar-me-ei contigo amanhã à noite na Travessa dos Amantes
Talvez possamos encontrá-lo esta noite na rua, querida
Ou possamos caminhar até à luz do dia, talvez..."

12.1.04

Greetings!

Ano novo, atrasos velhos! Pois é, o tempo para escrever aqui no blog tem sido pouco, contrapondo ao trabalho que tem sido muito. Para começar o ano, escolhi uma canção de um dos meus albuns favoritos, o deliciosamente sombrio "Nebraska". A canção fala sobre um caso verídico que aconteceu sobre ilegalidades no jogo que levou à morte do tal "Chicken Man" de Filadélfia. Já não me recordo bem de toda a história, mas fica aqui esta grande canção contada do ponte de vista do pequeno criminoso que cada vez se afunda mais para pagar dívidas que não pode pagar com trabalho honesto. Tudo isto se passou em "Atlantic City"...

"Atlantic City" (1981)

Atlantic City

Bem, eles rebentaram com o "Chicken Man" em Filadélfia ontem à noite
Agora, eles rebentaram com a sua casa também
Lá na marginal eles estão a preparar-se para uma luta
Vamos ver o que aqueles rapazes da confusão conseguem fazer

AGora, há sarilhos a chegar de fora do estado
E o procurador não consegue ter descanso
Vai ser um estrondo lá no passeio
E a comissão de jogos está pendurada pela pele dos seus dentes

Bem, tudo morre, querida, isso é um facto
Mas talvez tudo o que morra, um dia volte
Põe a tua maquilhagem, arranja o teu cabelo bem bonito
E encontra-te comigo esta noite em Atlantic City

Bem, eu tinha um trabalho e tentei poupar o meu dinheiro
Mas eu tinha dívidas que nenhum homem honesto pode pagar
Por isso tirei o que tinha do Central Trust
E comprei-nos dois bilhetes naquele autocarro da Coast City

Bem, tudo morre, querida, isso é um facto
Mas talvez tudo o que morra, um dia volte
Põe a tua maquilhagem, arranja o teu cabelo bem bonito
E encontra-te comigo esta noite em Atlantic City

Agora a nossa sorte pode ter morrido e o nosso amor pode ser frio
Nas contigo para sempre ficarei
Vamos para onde a areia se está a tornar ouro
Veste as tuas meias, querida, porque a noite está a ficar fria

E talvez tudo morra, querida, isso é um facto
Mas talvez tudo o que morra, um dia volte

Agora, tenho procurado trabalho, mas está difícil encontrar
Por aqui são apenas vencedores e vencidos e não são apanhados no lado errado dessa linha
Bem, eu estou farto de aparecer na ponta perdedora
Por isso, querida, ontem à noite conheci este tipo e vou fazer-lhe um pequeno favor

Bem, acho que tudo morre, querida, isso é um facto
Mas talvez tudo o que morra, um dia volte
Põe a tua maquilhagem, arranja o teu cabelo bem bonito
E encontra-te comigo esta noite em Atlantic City
E encontra-te comigo esta noite em Atlantic City
E encontra-te comigo esta noite em Atlantic City
E encontra-te comigo esta noite em Atlantic City