18.7.03

Greetings!

Do mesmo álbum do "Independence Day", mas escrita depois desta. O álbum "The River" é, para mim, um dos menos interessantes da carreira do Springsteen. Depois de ter pasmado uns quantos fãs com esta afirmação, sobretudo os muitos q o consideram como um dos melhores, passo a explicar: tem excelentes canções, mas num álbum duplo, tem muitas outras q são medianas ou mesmo prescindíveis (vem-me assim à cabeça um "I'm a rocker"...). Por isso, tal como no caso do "Human Touch"/"Lucky Town", acho q teria sido preferível um álbum simples. Ou então, substituir algumas das canções por outras inexplicavelmente deixadas de fora com o "Loose Ends", "Take'em as they come" ou o "Be True". Anyway, este "Point Blank" foi sempre, para mim, um dos pontos altos do "The River". Mais uma vez a história da sobrevivência neste mundo difícil e do desmoronar das ilusões e dos sonhos da juventude à medida que o tempo vai passando e a rapariga deixa de "esperar por Romeus" e espera agora pelo cheque da assistência social. A fase do "The River" marca a passagem da raiva da juventude para as dúvidas da fase adulta. A escrita é diferente de 78. Ele está agora mais calmo. Era impensável ele escrever "Point Blank" três anos antes.


"Point Blank" (1980)

À queima-roupa

Ainda dizes as tuas orações, querida?
Ainda vais para a cama à noite rezando para que amanhã tudo esteja bem?
Mas o amanhã desmorona-se em números, em números um por um
Tu acordas e tu estás a morrer, e nem sequer sabes de quê

Eles balearam-te à queima-roupa, foste baleada nas costas
Querida, à queima-roupa, foste enganada desta vez, rapariga isso é um facto
Mesmo entre os olhos, à queima-roupa
Mesmo entre as lindas mentiras que eles contam
Rapariga, tu caíste

Tu cresceste onde as raparigas crescem depressa
Tu aceitaste aquilo que te era dado e deixaste para trás o que foi pedido
Mas o que eles pediam, querida, não era correcto
Tu não precisavas de viver aquela vida

Eu ia ser o teu Romeu, tu ias ser a minha Julieta
Hoje em dia tu não esperas por Romeus, tu esperas pelo cheque da assistência social
E em todas as bonitas coisas que nunca poderás ter e em todas as promessas
Que acabam sempre à queima-roupa, baleadas entre os olhos
À queima-roupa como pequenas mentiras inofensivas que contas para aliviar a dor
Tu caminhas ao alcance, rapariga, da queima-roupa
E um único movimento em falso e, querida, as luzes apagam-se

Uma vez sonhei que estávamos juntos outra vez
Querida, tu e eu
Lá na terra, naqueles velhos bares, como costumávamos estar
Nós estávamos ao balcão, era difícil ouvir
A banda estava a tocar alto e tu gritavas algo no meu ouvido
Tu tiraste-me o casaco e enquanto o baterista contava até quatro
Tu agarraste a minha mão e puxaste-me para a pista

Tu ficaste ali e abraçaste-me, e começaste a dançar devagar
E enquanto eu te abraçava mais, jurei que nunca mais te deixaria ir
Bem, eu vi-te na noite passada, lá na avenida
A tua cara estava nas sombras mas eu sei que eras tu
Tu estavas à porta para evitar a chuva
Tu não respondeste quando chamei o teu nome
Tu apenas te viraste e depois desviaste o olhar
Como apenas outro estranho à espera de ser destruído

À queima-roupa, mesmo entre os olhos
À queima-roupa, mesmo entre as bonitas mentiras em que tu caíste
À queima-roupa, baleado através do coração
Sim, à queima-roupa, tu foste mudada até te tornares parte disso
À queima-roupa, tu caminhas ao alcance
À queima-roupa, a viver a um movimento em falso, a apenas um movimento em falso de distância
À queima-roupa, eles apanharam-te ao alcance
À queima-roupa, tu esqueceste-te de como amar, rapariga, tu esqueceste-te de como lutar?
À queima-roupa, eles devem ter-te baleado na cabeça
Porque à queima-roupa, pum pum, querida estás morta.

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